São Paulo, domingo, 8 de outubro de 1995
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O massacre do calendário e o esquema contrata-demite

TELÊ SANTANA

Estou completando nesta semana cinco anos consecutivos como técnico do São Paulo, um feito raro no futebol brasileiro.
Infelizmente, meu caso é uma exceção. Qualquer derrota, e a competência do treinador já é colocada em xeque.
O esquema contrata-demite insiste em não mudar. Às vezes, são contratados técnicos desconhecidos para alguns diretores, que exigem resultados imediatos, verdadeiros milagres.
O técnico não tem a chance de atuar adequadamente, fazer um trabalho, pelo menos, de médio prazo.
Meu início no São Paulo foi muito difícil. Peguei um time que tinha sido rebaixado para a 2ª Divisão do Campeonato Paulista, sem dinheiro nem para me pagar o hotel.
Procurei, então, recuperar os jogadores que já estavam aqui, conversar com o elenco, animar o pessoal. Com muita seriedade, saímos do décimo lugar no Brasileiro de 90, em outubro, para a disputa da final contra o Corinthians, em dezembro.
Foi um dos meus grandes aborrecimentos como técnico do São Paulo. Parecia que queriam que o Corinthians fosse campeão brasileiro naquele ano.
A partir de 91, entramos nos trilhos. Vieram as vitórias e os títulos. Tive o prazer de participar da melhor fase da história do São Paulo.
Agora, em 95, estamos atravessando um período de transição. Chegaram a cogitar minha saída, mas o presidente do clube me deu muita força, reconhecendo meu trabalho e adotando uma postura diferente da de muitos dirigentes de futebol.
Com paciência, estamos melhorando de produção, apresentando um rendimento aceitável em muitas partidas e voltando a disputar a classificação.
Não dependemos mais de nós mesmos, mas reagimos e ocupamos as primeiras colocações do grupo.
Quero aproveitar meu quinto aniversário no São Paulo para reforçar as críticas ao calendário brasileiro e ao estado da maioria dos gramados no Brasil.
Nós vamos enfrentar o Inter, hoje, no Morumbi, o Boca Juniors, terça, na Argentina, o Botafogo, quinta, no Morumbi, e o Guarani, sábado, em Campinas.
Não há time que aguente tentos jogos. É um verdadeiro massacre.
Quanto aos gramados, seria ótimo se os outros times também seguissem o exemplo do São Paulo, que está cuidando do Morumbi. Nosso gramado está um tapete. Pena que, a exemplo de meu quinto aniversário dirigindo o São Paulo, seja mais uma exceção no futebol brasileiro. A regra, como todos sabem, é outra...

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