São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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Blá-blá do PT

WERNER E. ZULAUF

Embora não sendo político, convivo, por força da minha profissão, com políticos ao longo de 34 anos. Aprendi como funciona a cabeça de certa parcela da classe política, que tem necessidade de aparecer para a opinião pública com uma determinada imagem.
Por meio de episódios tornados públicos, procura o político manter e realimentar tal imagem. Daí a velha expressão: "No mundo político mais vale a versão do fato do que o fato propriamente dito".
Isso é mais forte na oposição do que para quem está no governo. Com o poder é mais fácil ajustar fatos à ideologia. A oposição de baixa criatividade, que não gera fatos concretos, usa mais a tergiversação e a contundência para manter-se na mídia.
Em São Paulo o PT foi governo, teve em mãos projetos interessantes, mas perdeu a oportunidade de implantá-los. Faltou agilidade por conta do interminável ``assembleísmo", característica das discussões nas bases petistas levada à administração.
São exemplos dessa assertiva os incineradores e usinas de compostagem de lixo, assim como o projeto Cingapura. Perdeu o PT a oportunidade de implementar bons projetos e, consequentemente, perdeu a eleição.
O vereador Adriano Diogo, por exemplo, sabe muito bem que o teor da dioxina que chegará ao cidadão urbano, emitido pelas chaminés dos futuros incineradores (Sapopemba e Santo Amaro), será de fração de fentogramas por metro cúbico de ar. Isto é, um milionésimo de um bilionésimo. Não existe aparelho no mundo capaz de detectar tais valores. Chega-se ao número por meio de de simulações por modelos dispersores, técnica de uso comum.
Mesmo assim o vereador insiste na tecla, usando a tática de Goebbels (ministro da Propaganda de Hitler): "Repita uma mentira mil vezes que ela se tornará verdade".
A Folha, no dia 3 de outubro de 1995, dá guarida a mais uma repetição da mesma mentira do vereador, onde se fazem afirmações dos danos causados pelas dioxinas, sem dizer que tais danos ocorrem em ensaios de laboratório -quando são ministradas doses maciças de dioxinas em animais- ou em casos de acidentes (em Seveso, Itália, uma indústria liberou, por acidente, dioxina pura), ou ainda na guerra química (``Agente Laranja").
O que lamento é que a imagem do PT acabe por ser confundida com a idiotice de alguns de seus filiados. É pena que a democracia produza tais distorções, que me obrigam a escrever artigos tão contundentes, mas necessários, para que não se reeditem táticas nazistas 50 anos depois do sepultamento daquela ideologia.

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