São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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Bradesco deve investir em autopeças

FREDERICO VASCONCELOS
EDITOR DO PAINEL S/A

O Bradesco estuda novos negócios na indústria de autopeças, dentro da estratégia de ter participação relevante nesse segmento.
``Nós achamos que esse é o setor que mais vai sofrer reformulação no mercado brasileiro", diz Alcides Tápias, vice-presidente do Bradesco, ao avaliar a compra de 40% das ações da Cofap.
Abraham Kasinski, presidente da Cofap, diz que agora a empresa ``está com as mãos livres para crescer". Em agosto, a Cofap projetou um faturamento de R$ 600 milhões para este ano. Concluída a compra, Kasinski anunciou o objetivo de alcançar em breve -num novo ciclo de crescimento- um faturamento anual acima de US$ 1 bilhão.
A Cofap tem planos bem guardados. Ainda neste mês anunciará a ampliação da sua linha de produtos, começando pelo mercado de reposição, até chegar ao de exportação e de equipamentos originais.
A visão estratégica do Bradesco tem como ponto de partida o carro mundial. ``Nós achamos que esta é uma oportunidade ímpar de participar do mercado onde vai haver transformações", diz Tápias.
``A tecnologia tende a fechar, há a possibilidade de redução de custos, de aumentar a produtividade. Quem não conseguir se preparar, se habilitar para isso, fatalmente será excluído do processo. Pode ficar apenas no mercado de reposição", diz Tápias.
A idéia inicial do Bradesco era entrar na operação junto com dois fundos de pensão, adquirindo apenas 20% do capital. As fundações não acompanharam, pretendiam pagar um preço menor.
``O valor técnico para as ações seria um pouco menor", admite Tápias. Mas o banco temia pelo futuro da Cofap, caso a empresa não equacionasse o problema sucessório.
``No mundo dos negócios, quando há discussões familiares e a sucessão não está adequadamente resolvida, a empresa sucumbe. Os profissionais não se sentem seguros e vão procurar outra empresa", diz Tápias.
Segundo ele, no caso da Cofap, ``vale a pena ter uma perspectiva de retorno num prazo um pouco maior e salvar esse investimento". O banco condicionou que Abraham e os sobrinhos fizessem um acordo de acionistas, garantindo que eles administrariam a companhia.
``Nossa participação não procura o poder. Tem o objetivo de aplicar o dinheiro do banco de forma diversificada e em bons negócios para obter dividendos, e a preferência dos negócios da empresa com o banco", diz Tápias.
Kasinski diz que, com a saída dos dois filhos, ``houve uma maior tranquilidade dentro da fábrica". Ele afirma que havia um temor na empresa de que, se ele morresse, os herdeiros assumiriam e afastariam os executivos atuais.
Ele se diz disposto a tocar o processo de profissionalização. ``Gostaria de encontrar esse homem ainda no ano que vem e prepará-lo para sentar na minha cadeira", diz.
Kasinski exemplifica: ``Eu treinei um profissional para ocupar a minha cadeira, mas com a disputa interna, ele temia não ter futuro na empresa."
Kasinski diz que vai ``ouvir a opinião de um sócio que é um banqueiro, que tem uma outra visão do mundo econômico".
Tápias diz que o banco ``jamais recusará qualquer pedido de ajuda da Cofap, mas não tomará a iniciativa de interferir na administração".

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