São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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Telê, ano 5

JUCA KFOURI

Ele foi o primeiro técnico campeão brasileiro, em 1971, com o Atlético-MG. Foi o único treinador a perder uma Copa do Mundo e a voltar na seguinte no comando da seleção. Ao perder na Espanha, em 1982, com o melhor futebol apresentado lá e um time inesquecível, saiu aplaudido pela imprensa mundial, que ficou batendo palmas em pé após sua última entrevista coletiva antes de voltar para casa. Ele é ranzinza no trabalho e ótimo contador de casos fora.
Amar o futebol sobre todas as coisas é o seu primeiro mandamento, que Deus e a família lhe perdoem. Perfeccionista ao extremo, parece viver de mau humor.
Também, pudera. Os gramados são um horror, as bolas deixam a desejar, as arbitragens são calamitosas, a violência insiste em dar o tom, os cartolas são o que são e Telê Santana não perdoa.
Fala, escreve, esperneia, invariavelmente cheio de razão. Tem opinião sobre tudo que diga respeito ao futebol e a coragem de expô-la, ``duela a quien duela".
Conservador, apóia a extinção da Lei do Passe, como manifestou nesta Folha duas semanas atrás, e, se duvidar, estará amanhã na PUC-SP para levar sua solidariedade ao ato que o Sindicato dos Atletas organizou.
Pragmático, não transige na defesa do futebol como arte. Vitorioso, jura que prefere perder jogando bem a ganhar jogando mal. Piadista emérito, passa dias sem que o vejam sorrir no trabalho. Contraditório, sem dúvida.
Tão contraditório que completa hoje cinco anos de Morumbi, a maior parte desse tempo convivendo com o ex-presidente Mesquita Pimenta, de quem não gostava e não gosta. Ganhou tudo que um técnico pode ganhar por um clube, montando time atrás de time para a diretoria vender. Protestou até quando viu os cartolas viajando na primeira classe e os atletas, no fundo do avião.
O melhor presente que poderia ganhar no dia em que alcança essa marca tão rara no futebol mundial, Telê ganhará: em La Bombonera, certamente cheia de gente, enfrentará o Boca Juniors de Diego Maradona, o gênio torto que, outro dia mesmo, disse que adoraria trabalhar com Telê. Provavelmente não daria certo, tão diferentes são as filosofias de vida de um e de outro, mas valeu pela intenção.
Como valerá o duelo com o talento de Don Diego, caso ele jogue, nada melhor para quem gosta tanto da bola. E se algum são-paulino machucá-lo, não duvide, corre o risco de perder o emprego.

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