São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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Três dividem Nobel de Medicina

DA REPORTAGEM LOCAL; COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Alemã e dois norte-americanos ganham prêmio por descobrir como embrião se desenvolve
Dois pesquisadores norte-americanos e uma alemã foram indicados ontem para o Prêmio Nobel (pronuncia-se ``nobél" ) de Fisiologia ou Medicina.
O prêmio, no valor de cerca de US$ 1 milhão, é concedido pelo Instituto Karolinska da Suécia e será dividido entre eles.
Edward Lewis, 77, Eric Wieschaus, 48, e Christiane Nüsslein-Volhard, 52, foram premiados por seus trabalhos sobre genes que controlam e determinam o desenvolvimento do embrião.
Essas pesquisas foram importantes para o entendimento da formação do homem. Defeitos nos genes estudados levam a abortos espontâneos e a cerca de 40% das malformações congênitas.
``Eles são pioneiros da biologia do desenvolvimento", disse à Folha Roberto Santelli, do Instituto de Química da USP.
Embora os pesquisadores tenham estudado moscas comuns em bananas, chamadas Drosophila melanogaster, para entender como se formam as partes do corpo, suas descobertas se aplicam a qualquer animal, inclusive ao homem.
Wieschaus e Nüsslein-Volhard trabalharam juntos na década de 70. Segundo suas descobertas, os genes que determinam a localização das partes do corpo se posicionam, em estruturas celulares chamadas cromossomos, na mesma ordem que essas partes: os primeiros genes controlam a região da cabeça, e os últimos controlam a região do que seria a cauda.
Segundo Santelli, os genes estudados pelos dois determinam quantas partes (segmentos) o embrião terá e são chamados genes de segmentação. Em vários grupos, animais são divididos em três partes: cabeça, tórax e abdome.
Esses genes também determinam a orientação em eixos (polaridade) de cada parte: se vai crescer para frente (anterior), para trás (posterior), para "baixo" (em direção ao ventre) ou para "cima" (em direção ao dorso).
Lewis descobriu o sistema de genes que determina a função que cada uma das partes vai ter. Ele estudou um tipo de defeito que leva a mosca a produzir dois pares de asas em vez de um par só.
Nesse tipo de aberração, parece haver um erro de cálculo: uma das partes do corpo, onde a asa é formada, se desenvolve duas vezes, dando origem a quatro asas.
Lewis descobriu que esse defeito era gerado por uma anomalia num sistema de genes que chamou de "complexo bitórax". Suas conclusões levaram cientistas a descobrir que mamíferos têm sistemas semelhantes, chamados "hox".

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