São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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A dívida existe

O tema deixou de frequentar o cotidiano da imprensa mundial. Para alguns economistas trata-se de um assunto para sempre restrito aos tumultuados anos 80. As dívidas externas das economias em desenvolvimento, entretanto, se já não provocam crises profundas, são ainda um assunto controverso o suficiente para gerar atritos entre o FMI e o Banco Mundial.
Está em jogo um diagnóstico que, na década passada, era tido como heterodoxo e inaceitável pelos organismos multilaterais. Segundo a visão que agora começa a se generalizar, a dívida externa pode realmente ser um obstáculo significativo ao desenvolvimento. Há dez anos apenas os mais ferozes críticos do FMI teriam a disposição de insistir nessa tecla.
Agora ninguém menos que o presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, sai a campo em defesa dessa tese. Ele considera fundamental a criação de um fundo, financiado pelos organismos e por países membros, para o resgate de dívidas dos países mais pobres. A nova postura ainda causa constrangimento no FMI.
As duas instituições agora trabalham juntas numa proposta que possa afinal colocar em prática algumas das teses que na década passada jamais seriam sequer examinadas pela burocracia desses dois organismos.
Mais que a ajuda aos países mais pobres, a reunião anual do Fundo e do Banco Mundial que transcorre nesses dias em Washington consagra também a percepção, cada vez mais crítica, de que os fluxos de capitais globais de curtíssimo prazo podem provocar grandes estragos não apenas nas políticas macroeconômicas de curto prazo como também nas possibilidades de desenvolvimento.

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