São Paulo, terça-feira, 10 de outubro de 1995
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A dupla dinâmica

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - Uma das primeiras coisas que um paulista que vem para o Rio aprende é que terá de conviver, para sempre, com a rivalidade idiota entre as duas cidades.
Como paulista, sempre me aparece por aqui alguém para desancar São Paulo. Quando vou a São Paulo, não escapo de pelo menos um paulista que resolve ``tirar um sarro" do Rio de Janeiro.
Em geral consigo fugir dessa aporrinhação.
A não ser quando o assunto é César Maia ou Maluf. Aí a coisa muda de figura e não há como resistir. Mesmo porque há uma disputa acirradíssima entre ambos. Em geral para ver quem é mais ridículo. Senão, vejamos:
1. Maluf e Maia encheram suas cidades de obras para poder faturar o máximo politicamente em suas próximas investidas eleitorais. Se tais obras são prioritárias, se infernizam a vida do cidadão ou se agridem o meio ambiente, isso é outro problema.
2. Os dois são loucos por uma mídia. Maluf segura até faixa de chegada de maratona para aparecer na TV. Maia, quando não está colocando o nome de Tom Jobim em alguma rua da cidade, vai buscar o Franco Zefirelli para comandar a festa de fim de ano na praia, como se homenagem a Iemanjá fosse especialidade dos italianos.
3. Maluf nunca cansou, quando era candidato a... a que mesmo? Bem, não importa, o fato é que nunca cansou de dizer que iria botar a Rota na rua e jamais escondeu sua aprovação a métodos policiais truculentos. Na guarda metropolitana de Maia, a truculência começa logo no treinamento, com tapas na cara e humilhação dos candidatos a tomador de conta de monumento público.
Esses são apenas alguns poucos exemplos para uma semelhança tão grande. A cada dia, Maluf e Maia se parecem mais. Vindos de nichos políticos completamente distintos (Maia da ``esquerda revolucionária", Maluf da ``direita reacionária"), aí estão eles, tentando entrar para a história à custa da atualização do autoritarismo e do histrionismo político.

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