São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Lideranças: momento de decisão

SÉRGIO ANTONIO REZE

O Brasil vem experimentando uma imensa transformação: há não mais de dez anos, ainda estávamos a viver um clima de transição do regime militar para a democracia.
A abertura política teve como um de seus mais positivos efeitos a liberdade de imprensa, que instantaneamente assumiu sua nova condição com o mais firme dos propósitos.
Mas, na segunda metade da década passada, ainda enfrentávamos problemas pela falta de maturidade política e pela impossibilidade de resolver nossas questões sociais. Na área econômica, parecia que estávamos fadados a viver à margem do resto do mundo.
Lançamo-nos, então, a tentar liquidar esses problemas a golpes de borduna: no terreno econômico, descobrimos os pacotes que, da noite para o dia, poderiam colocar o país no Primeiro Mundo; na área social, crivamos a Constituição de 1988 de imposições que transformariam a sociedade brasileira na mais equitativa de todas; no campo político, escolhemos desenvoltos super-homens para representar-nos e governar-nos.
Estávamos tentando nada além de escrever o certo. E, ao que tudo indica, por linhas tortas, acertamos. As fracassadas experiências valeram: aprendemos uma série de coisas e estamos aprendendo umas tantas outras muito rapidamente.
No balanço desse aprendizado, o ganho mais positivo parece ter sido o surgimento, afinal, da opinião pública. Outros fatores importantes podem ser elencados, mas nada se compara à consciência que está se firmando no brasileiro de que suas posições e seus sentimentos são compartilhados por muitos e muitos outros e que não os externam mais em vão.
Vários são os episódios que demonstram a força da opinião pública: o impeachment de um presidente, a pressão sobre a CPI do Orçamento, a eleição de um candidato que representava a continuidade de um programa de estabilização econômica e o episódio da intervenção no Banco Econômico, dentre outros.
Em meio a tantas transformações, vimos assistindo, já desde a implantação do Plano Real, a uma enxurrada de manifestações contundentes por parte de diferentes lideranças sobre a condução da política econômica. Uma análise mais fria, porém, tem demonstrado que as medidas adotadas pelo governo são necessárias e que, até aqui, os acertos foram bem maiores do que os erros.
No meio empresarial, temos sido conduzidos a uma posição quase ambígua, em razão da contradição entre estarmos seguros de que o país não poderia mais ficar como estava -tanto que fomos os maiores estimuladores das mudanças- e, ao mesmo tempo, sentirmos que nossa atividade está sendo duramente abalada, em razão das profundas alterações por que passa nossa economia.
A bem da verdade, o choque para o empresário brasileiro está vindo em dose dupla: estamos não só tendo que nos adaptar à abertura de mercado, em meio a esse acelerado ritmo de globalização, como tendo que adequar nossas empresas ao processo de estabilização, com todos os ônus de sua implementação e todas as novidades da mudança.
Nesse ambiente conturbado, pesada é a responsabilidade da entidade de classe empresarial, oprimida pela angústia que toma conta de grande parte de seus representados. Mais do que isso, muitos líderes já perceberam que sua missão hoje é diferente da que tiveram no passado, quando tinham de conduzir seus companheiros por tempestades que adernavam suas embarcações, mas não as punham a pique. Em compensação, não vislumbravam perspectiva alguma de mudanças concretas no horizonte.
Hoje, a travessia é muito mais perigosa, e as lideranças podem ficar tentadas a ceder à pressão da angústia que vem de seus companheiros e confortá-los adotando posturas tradicionais. Ou podem optar por conscientizá-los de que a viagem, desta feita, é diferente: para vencer o desafio agora é necessário mudar, adequar-se às novas condições que são impostas pela grande transformação. O peso maior para essas lideranças é o de perceber, inclusive, que alguns de seus companheiros não conseguirão amoldar-se a esse novo ambiente.
Mas, por outro lado, podemos estar certos de que, desta feita, para além da tormenta, há um horizonte promissor para o país e para as atividades empresariais. Cabe, portanto, a cada líder escolher o caminho que tomará.

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