São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
Próximo Texto | Índice

Filme em TV paga satisfaz gosto médio

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os 800 mil brasileiros com TV paga, ao sintonizarem aleatoriamente um canal de filmes, terão maior probabilidade matemática de caírem numa produção de aventura, feita em Hollywood já nos anos 90, em que um diretor pouco conhecido dirige atores que não receberão por seus trabalhos nenhuma indicação ao Oscar.
O perfil pode não ser muito brilhante, mas é o que predomina nos 752 longas-metragens que os canais especializados programaram para este mês de outubro.
É muito filme. Mais que o dobro do que as redes de TV abertas (como Globo) exibirão no período. Se disponíveis em fita, eles precisariam de uma prateleira de 18 metros para serem acomodados.
Mas a quantidade não significa que o acervo das TVs pagas seja uma amostra do que o cinema produziu de notável. As empresas de programação estão mais preocupadas com entretenimento -que dá audiência- e menos com a arte.
Um exemplo: dos 631 filmes americanos (84% da programação), não há nenhum Charlie Chaplin e o hoje quase esquecido Richard Thorpe entra com oito filmes dirigidos, quatro vezes a mais que Stanley Kubrick e oito vezes a mais que Elia Kazan.
Outro exemplo: por mais que 66 filmes tenham sido produzidos entre 1945 e 1952, nenhum dos italianos é daquele período e portanto inexiste qualquer exemplar da escola neo-realista.
Independentemente de questões logísticas (o acervo de Chaplin não pertence a nenhum dos estúdios que abastece a programação), o cinema via TV paga investe no gosto do público médio.
É por causa dele que 77,6% dos títulos são classificados como aventuras e têm um final feliz.
É também por causa dele que atrizes bonitas são programadas com maior frequência. Kathleen Turner aparece em três filmes, Michelle Pfeiffer e Demi Moore em dois. A feiosa Bete Davis só aparece em um.
Mas os critérios não são bem estéticos. Os canais pagos estão no cronograma dos estúdios e têm sinal verde para a difusão tão logo a produção deixe o circuito das salas e passem às locadoras.
Os filmes passam à terceira etapa no processo de arrecadação dos estúdios e pertencem à memória mais recente do telespectador.
Aqueles que foram produzidos entre 1992 e 1994 (são ao todo 143) superam, nas telas da TV, os 126 de toda a década de 70 e quase se igualam aos 152 que chegam dos anos 40 e 50 juntos.
Um lembrete. Essa massa não está integralmente disponível a qualquer assinante de TV paga. Quem tem em casa a TVA possui também a exclusividade dos 98 títulos (14% do total) da HBO e mais os 11 títulos do Eurochannel e os seis da RTPI (Portugal).
Quem tem a Globosat (Net e Multicanal, em são Paulo), possui acesso exclusivo aos 232 filmes do Telecine (30% do total) e mais os 20 do Multishow.
O TNT (343 filmes, ou 45% dos programados) e a Fox (37 filmes) são canais distribuídos pelas duas redes de TV paga.

Próximo Texto: Reprises irritam espectadores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.