São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Muçulmanos recuam e aderem ao cessar-fogo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O governo muçulmano da Bósnia voltou atrás e decidiu aceitar o cessar-fogo com os sérvios, com dois dias de atraso em relação ao prazo acertado na semana passada.
O cessar-fogo deveria ter entrado em vigor à 0h01 de hoje (20h01 de ontem em Brasília). Ele havia sido assinado horas antes, no final da tarde.
As possibilidades da trégua estavam quase descartadas, uma vez que os sérvios não compareceram a um encontro convocado pelos muçulmanos para as 16h de ontem (12h em Brasília).
A trégua, o gesto mais efetivo para a paz no três anos e meio de guerra, havia sido marcada inicialmente para a 0h01 de terça.
Os bósnios disseram, na véspera, que uma das condições para o cessar-fogo (o abastecimento de gás à capital, Sarajevo) não havia sido cumprida, e que portanto o cessar-fogo não seria adotado.
Recomeçaram as negociações. O gás voltou a Sarajevo, e os bósnios aceitaram a paz temporária -que deve durar 60 dias, no mínimo, e incluirá várias rodadas de negociações de paz.
Nos dois dias "extras" de guerra, os muçulmanos da Bósnia conquistaram a cidade de Sanski Most e provocaram a fuga de cerca de 40 mil sérvios (leia texto ao lado). A maioria dos refugiados foi para Prijedor e Banja Luka, a maior cidade da Bósnia sob poder sérvio.
Assim, os muçulmanos ficaram em condições de reivindicar a posse de Banja Luka nas negociações -com o controle de Sanski Most, o assédio militar à cidade se torna mais intenso.
"Vamos tomar um café em Banja Luka", diziam ontem soldados bósnios a jornalistas na linha de frente, enquanto comemoravam a conquista de Sanski Most dando tiros para o alto.
O comando militar bósnio na região não acreditava, até a tarde de ontem, no início do cessar-fogo. Os soldados se preparavam para continuar a pressionar os sérvios.
A minoria sérvia vive atualmente o momento mais crítico desde que, em 1992, se opôs à separação da Bósnia-Herzegóvina (de maioria muçulmana) da Iugoslávia, o que provocou o início da guerra.
Os conflitos na ex-Iugoslávia devem continuar na Croácia. O governo do país, que não participa da trégua, ameaçou lançar uma ofensiva contra a minoria sérvia da Croácia para reconquistar a Eslavônia Oriental.
O futuro da região (sob poder sérvio) voltará a ser negociado entre os dias 16 e 18 deste mês. "As negociações devem terminar até novembro", disse o negociador croata Hrvoje Sarinic, "ou recorreremos à força".

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