São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Violência é a marca do país

NEWTON CARLOS
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A Colômbia tem um galardão, a sua "longevidade democrática", com eleições sucessivas desde 1958, coisa rara na América Latina. Mas essa façanha, conseguida num país que é um campo minado, sempre esteve e volta a estar à beira da explosão, tal o peso e a presença constante da violência na vida colombiana.
A guerra civil não-declarada de 1949 a 1953, entre conservadores e liberais, deixou um saldo de 1 milhão de mortos e a ditadura militar que se seguiu a ela foi derrubada em 1957, para que as duas correntes políticas históricas, diante de nova ameaça, as guerrilhas, assinassem um "pacto nacional", reabrissem as urnas e tratassem de "normalizar" a vida do país.
Conservadores e liberais disputaram a ferro e fogo a herança da coroa espanhola, origem de 40 revoluções até que se consolidasse a república, proclamada em 1819.
O livro "Cem anos de Solidão", de Gabriel García Márquez, é retrato desses tempos.
As guerrilhas, a partir do famoso "bogotazo" dos anos 50, o levante popular em Bogotá, capital do país, onde se reunia a OEA, chegaram a criar "repúblicas independentes" na Colômbia e são hoje, ao lado das guatemaltecas, as mais antigas do continente. Um de seus chefes, conhecido como "Tiro Fijo", homem do disparo certeiro e mortal, já acima dos 65, é o mais velho guerrilheiro do mundo.
Há pouco, o governo colombiano ofereceu US$ 1 milhão em troca de informações que permitam capturá-lo e ao comandante Policarpo. Eles são os líderes das duas maiores guerrilhas em atividade, com entre 10 mil e 15 mil homens.
Cartéis da droga que "exportam" de US$ 4 bilhões a US$ 5 bilhões por ano ampliaram esse quadro de violência, inaugurado com as disputas entre elites nativas pelo espólio colonial, agravado com a incorporação das lutas sociais e transformado quase num beco sem saída com a entrada da delinquência da coca.
A 16 de agosto, diante do aumento em todo o país dos assassinatos e sequestros, o governo colombiano voltou a decretar o "estado de comoção interna".
Foram 20 mil assassinatos em seis meses, entre os quais os de 86 policiais, e 53 sequestros em um mês. Envolvimento de esquadrões da morte, além de guerrilheiros, narcos, militares etc..
O jornal "El Tiempo", um dos mais importantes, diz que a guerrilha se prepara para sitiar Bogotá.
Ao mesmo tempo, a Procuradoria Geral vai em frente com o chamado Processo 8.000, que investiga a contaminação do sistema de poder pelo narcotráfico.
Há vários parlamentares envolvidos. O próprio presidente da Colômbia, Ernesto Samper, acusado de ter recebido dólares do Cartel de Cali para a sua campanha, está sob investigação do Congresso e as "evidências" contra ele se acumulam perigosamente.
Há quem chame a Colômbia de narcodemocracia.

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