São Paulo, quinta-feira, 12 de outubro de 1995
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Kafka é o James Dean dos jovens de Praga

DO ``LE MONDE"

Kafka morou algum tempo no número 22 da rua das Mansões, e a minúscula casa está transformada na livraria Kafka, com diversos objetos e pôsteres com a efígie do tenebroso dono do ``Castelo" e do ``Processo".
Kafka tinha um físico cinematográfico, com seu belo rosto anguloso; aliás, Jeremy Irons emprestou-lhe o seu no filme de Steven Sodenbergh, que leva seu nome e que relata sua vida breve, parecida com a de uma estrela.
Mas uma estrela que parece ter sido vítima de um cinema que não o de seu país, se prestando, sempre, a ser uma espécie de rima mau executada com o absurdo.
Um escritor que parece atrair e ser atraído pelo gênio, como Orson Welles, que transformou ``O Processo" (1963) em uma sucessão de imagens claustrofóbicas, nos lembrando que Praga é menos um lugar e mais uma visão.
Mais recentemente, o dramaturgo Harold Pinter tentou domar o espírito do escritor, mais uma vez com ``O Processo" (1993).
Se esperava então, para Kafka, a sua mais completa leitura. Como se o ``nonsense" e incomunicabilidade -Pinter- pudessem dar forma ao seu silêncio. Mas, como sempre, nada aconteceu e o escritor continua condenado aos livros.
Kafka é, como Rimbaud, um dos raros escritores que se imagina estampados numa camiseta de adolescente, esses frágeis mas invejáveis templos ambulantes.
Sua silhueta em preto e branco com seu famoso chapeuzinho é encontrado em todo lugar. Che Guevara e sua boina ou James Dean e seu cigarro no canto da boca. Kafka é o James Dean de Praga. Todos se sentem um pouco responsáveis por sua morte.

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