São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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Variação de preço por garrafa chega a 600%

JORGE CARRARA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Saber escolher, comprar pelo menor custo e ter um apetite moderado no momento de decidir a margem de lucro são fatores para quem quer modelar uma carta de bons vinhos a preços acessíveis.
Parece ser essa a fórmula que norteia na cidade restaurantes como o La Bicocca, cujo proprietário, José Sebastião Figueiredo (um dos melhores sommeliers do país), montou uma carta com uma ala de belas opções a preços ótimos.
Constam nela o argentino Carrascal (R$ 17), os Chardonnay Cova da ursa (R$ 25) e Sterling (R$ 21), junto a outros ainda mais em conta, como os Valpolicella (R$ 12) e Bardolino Batasiolo (R$ 11). Os vinhos, mantidos em ambiente climatizado, são servidos (por garçons bem-orientados) em taças de cristal.
A performance se repete a poucos metros dali, no aconchegante La Cave, também dedicado à cozinha italiana. A carta -reflexo talvez da paixão por vinhos do proprietário, Clovis Siqueira- lista bons exemplares portugueses (Dão Porta dos Cavaleiros, R$ 21), franceses (Muscadet Guy Saget, R$ 22) e italianos (Chianti Badia a Coltibuono, R$ 21). Há também chilenos a partir de R$ 11 (Concha y Toro) e nacionais, como o Forestier, a R$ 10.
Falta, infelizmente, esse tipo de conhecimento, bom senso e sobretudo respeito pelo consumidor (tão comum em outras metrópoles do mundo) a uma boa parte dos restaurantes de São Paulo.
É o caso da churrascaria Costela de Ripa. A casa -rústica e de serviço simples- cobra entre 300% a 600% a mais que o preço de loja por uma garrafa de vinho.
Os Dão estão na Costela a R$ 40,59, o Chianti (Falconi), a R$ 34,81, o nacional Chandon, a R$ 23,29 e um simples Lieubfraumilch, a R$ 29,00. Para piorar, os vinhos (mal-conservados) são servidos em toscas taças de vidro.
Outro exemplo é o Freddy, que, se não escorrega na (cuidada) decoração, nem nas taças (de cristal, com formato apropriado) e muito menos na conservação dos vinhos (guardados em armário climatizado), tropeça, como seu vizinho, nos preços exagerados.
O chileno Don Luis sai a R$ 26 e o popular Bardolino Bolla, a R$ 30 (ambos podem ser comprados por cerca de R$ 9).
O Chardonnay Cova da Ursa custa R$ 45 e o Lieubfraumilch (que custa R$ 5 ou R$ 6 nas lojas e não passa de R$ 10 no La Cave ou La Bicocca), R$ 25.
Curiosamente, o cardápio do bistrô reza no rodapé: "Um dia sem vinho é como um dia sem sol. Sem honrar nem um pouco a frase, o Freddy (e todo restaurante com preços igualmente disparatados) acaba deixando seus clientes no meio da chuva.

Procure: La Bicocca (r. Paes de Araujo, 147, tel. 64-4535) e La Cave (r. Clodomiro Amazonas, 75, sobreloja, tel. 820-7790).
Evite: Costela de Ripa (r. João Cachoeira, 298, tel. 852-2804) e Freddy (pça. Dom Gastão Liberal Pinto, 111, tel. 822-5812).

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