São Paulo, sexta-feira, 13 de outubro de 1995
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'Johnny Mnemonic' converte conto cyberpunk em filme de ação vulgar

BIA ABRAMO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Johnny Mnemonic - O Cyborg do Futuro
Produção: EUA, 1995
Direção: Robert Longo
Elenco: Keanu Reeves, Dina Meyer, Takeshi, Ice-T, Henry Rollins
Onde: a partir de hoje nos cines Liberty, Olido 3, Iguatemi 2 e circuito

Tinha tudo para dar certo. O próprio escritor William Gibson roteirizou seu conto "Johnny Mnemonic", a direção foi entregue ao artista plástico Robert Longo, até mesmo Keanu Reeves parecia adequadamente mecânico para o papel de Johnny.
Mas ainda não foi dessa vez que o cyberpunk, subgênero da ficção científica criada nos anos 80 por Gibson e Bruce Sterling, teve uma tradução decente para o cinema. Talvez a própria história de Gibson já tenha envelhecido.
No começo dos anos 80, um mundo dominado por megacorporações, ligado por redes de computadores, com hordas de desempregados morando nas ruas das grandes cidades, ainda era material de ficção. Hoje, está nas primeiras páginas dos jornais.
Johnny (Keanu Reeves), uma espécie de office-boy altamente especializado, transporta dados em seu cérebro, a forma mais segura e sigilosa de movimentar informações no século 21. Em uma de suas missões, ele aceita um volume muito maior de memória que pode suportar -sua cabeça pode literalmente explodir.
Como se não bastasse, uma poderosa empresa farmacêutica também está interessada em sua preciosa carga cerebral e manda a Yazuka ao encalço de Johnny. Jane (Dina Meyer), uma guarda-costas viciada em drogas, leva Johnny ao quartel-general dos Lo-Techs, guerrilheiros urbanos que combatem o excesso de tecnologia.
A trama é típica das histórias cyberpunk: os vilões são os braços armados das megacorporações, o herói é um sujeito com grandes habilidades em computadores, o cenário é pós-apocalíptico.
A direção de Longo não se afasta nem por um milímetro das convenções do filme de ação -e não dos de primeira linha. Correria, tiros, pancadaria e explosões se sucedem e se repetem.
A sequência de computação gráfica no ciberespaço, na qual poderia se esperar um pouco mais de criatividade e impacto visual, também repete clichês. E, por incrível que pareça, a ambientação futurista de "Blade Runner ainda ganha de longe dos cenários de "Johnny Mnemonic".
Keanu Reeves nunca mais deveria fazer filmes de ação. Toda luta em que ele se mete fica parecendo piada.
Para dar algum charme pop, o roqueiro Henry Rollins (o médico Spider) e o rapper Ice-T (o líder dos Lo-Techs, J-Bone) trabalham como atores. Mas ainda é muito pouco.

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