São Paulo, sábado, 14 de outubro de 1995
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Funcionário da Funai morre em confronto

WAGNER OLIVEIRA; LUCAS FIGUEIREDO
DA AGÊNCIA FOLHA

O funcionário da Funai Antônio Pedroso Assis, 37, foi morto com dois tiros durante operação de retirada de garimpeiros da reserva indígena Sararé, no município de Pontes e Lacerda (MT).
Segundo o administrador regional da Funai em Vilhena (RO), Doralício Dorneles da Costa, Assis foi sequestrado na quarta-feira e provavelmente morto anteontem pelos garimpeiros.
A operação foi realizada por funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio), sem o apoio de agentes da Polícia Federal.
Na última quarta-feira pela manhã, sete funcionários da Funai de Vilhena (RO) foram checar uma informação fornecida pelos índios, de que cerca de 50 garimpeiros estavam atuando no garimpo Ferrugem, localizado dentro da reserva.
Segundo o chefe da operação, Célio Henrique Augusto, 32, a equipe foi recebida a tiros pelos garimpeiros. Ele disse que o grupo se dispersou para escapar e depois responder aos tiros. Dez minutos após o tiroteio, o grupo se reuniu e notou a ausência de Assis.
Na procura pelo colega, os funcionários da Funai prenderam quatro garimpeiros. O corpo de Assis foi encontrado anteontem à noite em uma vala próxima ao acampamento dos garimpeiros. ``Nosso companheiro foi executado pelos garimpeiros, pois os tiros foram dados à queima-roupa, na altura do coração", afirmou Augusto.
Segundo o administrador da Funai, os garimpeiros presos correm risco de serem linchados pelos 150 nhambiquaras que vivem na reserva. Os quatro garimpeiros, cujos nomes Costa não soube informar, estavam sendo protegidos dos índios por dez funcionários do posto da Funai na reserva.
Na semana passada, a Funai prendeu seis pessoas e apreendeu dez caminhões e nove tratores usados na retirada de madeira da reserva, rica em mogno. Para Costa, a apreensão de equipamentos deve ter revoltado os garimpeiros.
O administrador da Funai em Vilhena disse que a Polícia Federal não participou da ação porque não achou necessário: ``Nossa equipe foi ao local checar a informação e não retirar os garimpeiros". A PF criticou a operação.
Um delegado e oito agentes da Polícia Federal se deslocaram ontem à tarde de Cuiabá (MT) a Pontes e Lacerda para apurar o caso. Costa iria se juntar ontem à equipe da PF para ir à reserva.
``Depois de entregar os garimpeiros presos à PF, pretendemos voltar ao garimpo e retirar os invasores", afirmou.
O delegado da União Sindical dos Garimpeiros da Amazônia Legal, José Altino Machado, disse que a Funai não pode acusar garimpeiros pelo crime antes de uma investigação policial.
O médico legista Gustavo Henrique Alves, que fez a autópsia no corpo, disse que Assis foi morto com dois tiros paralelos no lado esquerdo do tórax. Os tiros, segundo o legista, foram dados pela frente, à curta distância. Um avião levou o corpo de Assis para Rolândia (PR), onde seria enterrado.

Colaborou LUCAS FIGUEIREDO, da Sucursal de Brasília

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