São Paulo, sábado, 14 de outubro de 1995
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O protesto dos franceses

Representando quase um quarto da força de trabalho da França, os funcionários do setor público paralisaram na última quarta-feira entre 75% e 90% dos transportes terrestres, além de afetar correios, escolas e hospitais em protesto contra o congelamento de salários previsto para 96. A greve foi um sinal da conhecida tensão entre a necessidade de equilibrar as contas públicas e as fortes resistências das parcelas da população que se consideram prejudicadas pelo ajuste.
Nesse sentido, pode-se fazer uma analogia com a má acolhida e subsequente adiamento da reforma da Previdência no Congresso brasileiro. A população apóia o combate à inflação, mas opõe-se, obviamente, ao que afeta seus benefícios.
Já foi dito inúmeras vezes que ao longo deste século houve um movimento pendular entre a ojeriza à inflação e o predomínio da idéia de que a falta de vagas de trabalho e de segurança social eram mais graves. A noção de que as sociedades devem optar entre desemprego e inflação tornou-se senso comum.
A novidade da última década é que -em quase todo o mundo- o custo da estabilidade monetária vem aumentando em termos de desemprego e estagnação da qualidade de vida. O desafio de compatibilizar a estabilidade dos preços a um crescente nível de bem-estar continua sem resposta -e agravou-se.
De fato, uma das explicações para a derrota do Partido Democrata nos EUA no pleito legislativo do ano passado foi justamente a sensação de que o conforto das classes médias norte-americanas parou de evoluir e pode estar retrocedendo.
Do pós-guerra à década de 70, as políticas keynesianas em vigor pareciam ter deixado para trás o drama do desemprego agudo e das depressões econômicas. Mas não souberam responder à inflação quando esta surgiu. As políticas liberais que se seguiram contiveram a alta dos preços sem deprimir excessivamente o crescimento. Mas parecem agora deixar insatisfeitos os que se tinham acostumado à idéia de que a cada ano a vida será necessariamente melhor e mais fácil.

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