São Paulo, sábado, 14 de outubro de 1995
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ONU, família das nações

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

A 5 de outubro de 1995, João Paulo 2º foi convidado a comparecer, em Nova York, à assembléia da Organização das Nações Unidas que celebrava 50 anos de sua fundação. Recordando a visita de Paulo 6º à ONU, há 30 anos, repetiu suas palavras ao descrever sua presença não como a de um representante do poder temporal nem a de líder religioso em busca de privilégios, mas a de quem vinha dar testemunho da dignidade da pessoa humana e da esperança diante do futuro. Muito dependerá do esforço comum para construir a civilização do amor, fundamentada em valores universais de paz, de justiça e liberdade.
Em sua mensagem vigorosa e muito aplaudida, João Paulo 2º exortou a ONU a ser não apenas uma instituição de tipo administrativo, mas o ``centro moral" em que as nações realizam o ideal de formar a verdadeira ``família das nações".
1) O conceito de ``família" responde a uma comunidade fundada na confiança recíproca, no apoio mútuo e no respeito sincero. Não pode haver domínio dos mais fortes. Numa autêntica família, pelo contrário, os membros mais fracos devem ser duplamente acolhidos e auxiliados. Para que isso se realize, será preciso estabelecer com urgência -por meio de um acordo internacional- os ``direitos e deveres das nações", a exemplo da Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948.
2) O problema das nacionalidades está marcado pela tensão entre a abertura à universalidade -que se expressa nas migrações, na ação dos meios de comunicação e na globalização da economia- e a forte atração centrípeta dos particularismos étnico-culturais.
Os dois pólos têm sua raiz nos próprios seres humanos, cuja natureza comum move as pessoas a se identificarem como membros de uma única e grande família e, por outro lado, leva cada um a sentir vínculos mais estreitos nos ambientes concretos em que se insere: família de origem, grupos étnico-culturais e outros.
3) Os direitos das nações respondem à exigência de garantir sua identidade e sobrevivência; direito à existência em clima de verdadeira liberdade, à própria língua e cultura, a modelar a vida segundo suas tradições, sem oprimir as minorias, de assegurar o futuro pela educação dos jovens.
4) A esses direitos devem corresponder os deveres para com as demais nações e a humanidade: a) atitude de paz e respeito, aprendendo a conviver com a diversidade. Respeitar as culturas diferentes é reconhecer o direito de cada comunidade, na liberdade de consciência, de procurar e encontrar a verdade sobre o mistério do mundo e do homem; b) a ética da solidariedade que permita condições dignas de vida para todos e todas as nações. Essa solidariedade, ``poder dos não-poderosos", foi o núcleo moral das revoluções não-violentas de 1989, na busca comum da liberdade.
João Paulo 2º lançou na ONU sua mensagem de esperança. ``Não podemos ter medo diante do futuro." O fundamento de sua confiança não é só a sabedoria e a virtude de que somos capazes. É a fé em Jesus Cristo, que nos assegura a proteção da misericórdia divina sobre os destinos das nações.
No próximo dia 16, segunda-feira, João Paulo 2º completa, com saúde e incansável zelo, 17 anos de sua eleição ao pontificado. Que as palavras finais de seu discurso na ONU sirvam para nos encorajar e rezar pelo seu ministério: ``Podemos e devemos construir uma civilização digna da pessoa humana. As lágrimas deste século prepararam o terreno para uma nova primavera do espírito humano".

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

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