São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Deputado estadual não é prioritário

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

A pouca utilidade dos deputados estaduais no dia-a-dia das empresas, sobretudo na vida das empreiteiras, pode explicar o baixo índice de contribuições aos candidatos à Assembléia Legislativa, em comparação com o Congresso e os governos dos Estados.
É mais interessante para uma construtora ter um bom aliado no segundo escalão do governo do Estado do que um ``amigo" no posto de deputado estadual.
Na prática, segundo empreiteiros e executivos de construtoras ouvidos pela Folha, mais vale um bom relacionamento com um diretor do Departamento de Estradas de Rodagem, por exemplo, do que a amizade com vários deputados.
No atual cenário de crise de obras públicas e uma montanha de dívidas de R$ 3,5 bilhões a receber, as negociações com o governo não passam pela Assembléia.
Costumam ser feitas diretamente entre entidades que representam o setor -como a Associação Paulista de Obras Públicas e o Sindicato da Indústria da Construção -e secretários do governo.
Um deputado estadual pode ajudar a reforçar um pedido ao governador, mas precisa ser um parlamentar de prestígio para ter o seu pleito levado em consideração.
As empreiteiras concentram o dinheiro destinado ao Poder Legislativo em candidatos a deputados federais, que podem apresentar emendas ao Orçamento da União.
Só o deputado Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), líder do governo na Câmara, recebeu de empreiteiras R$ 289,5 mil. O valor equivale a mais da metade do que a Andrade Gutierrez investiu na campanha de todos os candidatos a deputado estadual em São Paulo.
Os deputados federais também fazem o papel de interlocutores privilegiados junto aos governos federal e estadual.
Existem casos, no entanto, como o de ex-prefeitos e ex-dirigentes de estatais ou secretários de governo que merecem atenção especial de empreiteiras.
É o caso, por exemplo, do deputado Fernando Cunha, eleito pelo PMDB e agora no PSDB (veja texto nesta página).
Cunha, ex-presidente da Cesp (Companhia Energética do Estado de São Paulo) e ex-secretário dos Transportes Metropolitanos, foi o candidato que mais recebeu doações de empreiteiras.
Na sua lista constam a Andrade Gutierrez, CBPO e Camargo Corrêa. Essas empresas mantinham obras ou vínculos contratuais com os órgãos por onde passou o atual deputado.

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