São Paulo, domingo, 15 de outubro de 1995
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Implosão catastrófica

ANTONIO ERMÍRIO DE MORAES

Ouve-se que o governo pretende alterar o sistema de financiamento do Sesi, Senai e entidades congêneres. Não entendi o que está por trás dessa intenção. Afinal, por que mexer em time que está ganhando?
O Sesi e Senai são instituições que ultrapassaram a fase de testes. Ao longo de meio século, elas provaram seu forte poder de atuar no campo social. São entidades que deram certo.
Se há alguma coisa a fazer nesse campo é aumentar a capacidade de a nação atender a saúde, a nutrição, a educação e a formação profissional. Com o PIS, o governo arrecada 0,65% sobre o faturamento; com a Cofins, 2%; e com a contribuição social sobre o lucro das empresas, cerca de 1% -considerando-se um lucro médio de 10%.
Portanto, o governo recebe quase 4% sobre o faturamento de todo o país para cuidar do social. Só no setor industrial, isso deve chegar a quase US$ 8 bilhões por ano, e as ações governamentais continuam muito aquém da necessidade. Por isso, pergunto: se o governo, do lado público, não está dando conta do recado, por que cortar o que existe de bom do lado privado (Sesi e Senai)?
A hora é de ampliar e não de reduzir. Será que aplicar na ciranda financeira -como se faz com boa parte dos recursos do PIS e Cofins- é a melhor maneira de se atender o social?
O Sesi possui mais de 2.600 unidades de atendimento nos campos da educação, nutrição, saúde, esportes e cultura. São mais de 600 escolas, 400 creches, 1.800 consultórios e 5.000 salas de aulas que abrigam 700 mil estudantes por ano. São 54 milhões de refeições anuais. Mais de 30 milhões de atendimentos médicos e odontológicos. O que há de errado em fazer tudo isso?
O Senai, por sua vez, mantém quase 1.000 unidades de ensino em 3.000 municípios e atende a mais de 2 milhões de alunos por ano. Já foi o tempo em que o Brasil exportava apenas produtos primários. Hoje, 3/4 das exportações são de produtos industriais manufaturados e semimanufaturados. Será que o Senai não teve nada a ver com isso num país tão carente de recursos humanos? Quem vai garantir essa formação depois da pretendida destruição?
É claro que essas instituições têm seus defeitos. Entretanto, parece-me mais inteligente corrigir os defeitos e expandir seu raio de ação do que começar tudo de novo.
O Sesi de São Paulo, por exemplo, já abriu seus ambulatórios à população em geral por meio de convênios com os SUS. Por que não estender isso aos outros Estados? Por que não orientar parte de seus recursos para o atendimento escolar dos meninos de rua? Esses menores se espalham pelas cidades como rastilho de pólvora, na mais desumana condição de vida e aos olhos desses mesmos governantes que pretendem implodir o Sesi e o Senai.
É urgente que todas as entidades cuja finalidade é o social venham a se modernizar para alargar suas fronteiras e melhorar sua produtividade. Isso só pode ser alcançado com menos discurso e mais ação. Que cada um faça a sua parte.

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