São Paulo, segunda-feira, 16 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

As mulheres

DARCY RIBEIRO

Acabamos de acompanhar, na China, um imenso Congresso de Mulherologia. Discutiram, brigaram, mas acabaram produzindo um belo documento resolutivo. A gente fica com esperança de que isso venha a melhorar a situação das mulheres do mundo inteiro a longo prazo.
Mais importante, entretanto, do que essas resoluções congressuais é a vitória da emenda proposta no Senado por todas as senadoras, encabeçadas pela senadora Júnia Marise. E que o Senado aprovou. É nada menos que a obrigatoriedade de que nas listas de candidatos de todos os partidos para a próxima eleição de vereadores sejam reservadas 20% das vagas às mulheres.
Um quinto dos vereadores dos 5.000 municípios brasileiros já é uma beleza. Espero, porém, que o Congresso estenda essa garantia mínima de presença feminina nas eleições para as Assembléias Legislativas e para o Congresso Nacional.
Estou certo de que essa ponderável presença feminina vai melhorar muito a atividade legislativa, emprestando esse sentimento de realidade, de responsabilidade moral e de preocupação social que é tão característico das mulheres. Uma vez escrevi meio de pilhéria que a democracia só se alcançaria em eleições ``fifty-to-fifty", metade homens, metade mulheres. Queria também o rodízio no Poder Executivo e no Judiciário. A um presidente macho sucederia uma presidenta fêmea.
Não imaginava, então, que isso pudesse concretizar-se, como acaba de ocorrer com a emenda da Júnia Marise, numa proporção que não é ainda o que eu queria, mas já é formidável.
É sabido que gosto muito das mulheres. O que muitos ignoram é que também as admiro e as respeito. Nos tantos postos que exerci ao longo da vida, trabalhei quase só com mulheres. Elas são mais inteligentes, mais dedicadas ao trabalho, mais fiéis e mais honestas. São, além disso, mais bonitas e mais cheirosas. Vocês não concordam?
Os defeitos que as mulheres têm, e que são as suas maiores virtudes, podem ser assim resumidos:
1) O de engravidarem e parirem. O que antigamente atrapalhava muito o trabalho. Hoje, porém, gravidez e menstruação já não são problemas;
2) E se casarem com uns maridos chatos e mandões que às vezes incomodam muito a gente. Para esse problema, eu ainda não achei a solução. Se você tiver alguma sugestão, me escreva pro Senado.

Texto Anterior: Idolatria e veneração
Próximo Texto: TARTARUGA; CAUSA PRÓPRIA; MOLESTAMENTO; SUPERIORIDADE; PARA CONSUMO
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.