São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 1995
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Calendário sacrifica times no Brasil

ANDRÉ FONTENELLE; JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O calendário do futebol brasileiro pode levar um time a jogar 72% a mais em um ano do que um clube europeu (veja quadro ao lado).
Com o excesso de jogos e campeonatos, alguns clubes são obrigados a enfrentar uma verdadeira maratona, como aconteceu com o São Paulo na semana passada, quando realizou quatro jogos em apenas seis dias.
Um dos mais sacrificados pelo calendário, o São Paulo foi o primeiro clube a apresentar uma proposta a Ricardo Teixeira, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), com o objetivo de racionalizar o calendário.
Para 96, mesmo que a Fifa (Federação Internacional de Futebol Association) anuncie um calendário mundial unificado, o problema no Brasil deve continuar.
"Não basta ajustar nosso calendário ao europeu. É necessário racionalizar e tornar mais interessantes os campeonatos no Brasil", disse Fernando Casal de Rey, presidente do São Paulo.
O diretor do Departamento Técnico da CBF, Gilberto Coelho, que afirma não ter tomado conhecimento da sugestão do São Paulo, só deve divulgar o calendário da entidade para 96 em novembro.
A entidade espera a divulgação do calendário da Confederação Sul-Americana para terminar de elaborar o seu.
A desorganização do calendário brasileiro é antiga. Promessas de racionalização, também. "Sempre houve bagunça", lembra o técnico do São Paulo, Telê Santana.
Em 79, antes de assumir a presidência da CBF, Giulite Coutinho prometia um calendário trienal.
A idéia foi rapidamente esquecida. Ainda hoje, Coelho acha inviável planejar com antecedência superior a um ano: "É melhor fazer ano a ano", opina.
Na Europa, no entanto, já está pronto o calendário da Uefa (União das Associações Européias de Futebol) até julho de 98.
Já se sabe, por exemplo, que a decisão da Copa dos Campeões (torneio interclubes europeu) de 97/98 será em 20 de maio de 98.
"A gente pode ter uma previsão para quatro anos, se levar em consideração um suposto calendário mundial. Caso contrário, fica difícil", ressalva Coelho.
O calendário mundial unificado deverá prever 14 datas, em 96 e 97, em que os campeonatos nacionais serão paralisados para a disputa das eliminatórias da Copa do Mundo de 98, na França.
No entanto a organização do calendário mundial já começou a se complicar, por culpa da Confederação Sul-Americana (CSF).
Ela pediu que as eliminatórias do continente sejam disputadas no sistema de todos contra todos (com nove times, já que o Brasil está na Copa). Com isso, cada seleção fará 16 jogos.
A desorganização do calendário sul-americano (leia textos abaixo) contribui para dificultar a organização do calendário brasileiro.
Outro problema, que só existe no Brasil, é a tradição dos campeonatos estaduais.
Criados em uma época na qual era impraticável um Campeonato Brasileiro de clubes, eles ocupam metade do calendário do país.
A maior parte das propostas de racionalização do calendário prevê que os times "grandes" só entrem nos estaduais nas fases finais.
O articulista da Folha Juca Kfouri defende solução ainda mais radical: o fim dos estaduais, que "não se justificam".
Mesmo pôr os grandes clubes somente nas fases finais não é, para ele, uma idéia válida.

LEIA MAIS
Sobre a mudança no calendário na pág. 3

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