São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Plágio na USP levanta discussão sobre fraude

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os dois casos inéditos de plágio apurados na Universidade de São Paulo no último ano deverão provocar uma reflexão no meio acadêmico sobre fraudes e má conduta, afirma o reitor da USP, Flávio Fava de Moraes, 56.
Ele recebeu ontem o processo do Instituto de Psicologia que, anteontem, decidiu demitir a professora doutora Luiza Beth Nunes Alonso, por ter copiado em um artigo, sem citar a fonte, 140 linhas de textos de três autores -um deles aluno da USP.
Pelo Estatuto Geral da universidade, de 1972, é o reitor que deve demitir os professores -que têm estabilidade no emprego. Fava afirmou ontem que, por ainda não ter lido o processo, não poderia se posicionar. A tendência é o reitor seguir a decisão da Congregação do Instituto de Psicologia, que optou pela demissão da professora, por 13 votos a 5.
Segundo Fava, nos EUA foi realizado há três anos um simpósio sobre "Ciência Responsável", para estabelecer critérios sobre o que é, para o meio científico, fraude -desde invenção de dados até plágio- e má conduta -como autocitação em artigos.
Para o presidente da Adusp (Associação de Docentes da USP), Marco Brinati, 51, "há um direcionamento da universidade para que se publique muito, em detrimento de outras atividades, como o ensino".
Segundo ele, isso pode levar professores a publicar artigos de qualquer forma, chegando a extremos como o ocorrido no Instituto de Psicologia. Brinati ressaltou estar falando em seu próprio nome e não da Adusp, que não discutiu o caso de plágios na universidade.
O reitor afirmou que, mesmo que exista uma política que valorize as publicações científicas, "o indivíduo, quando é correto, não comete fraudes".
No caso da psicologia, Luiza, em um artigo publicado em 94, copiou integralmente 62 linhas do projeto de doutoramento do professor da Universidade Federal do Espírito Santo Lídio de Souza, apresentado em 1992.
Outras 74 linhas foram plagiadas de um texto do psicólogo social italiano Alberto Melucci, segundo a Comissão Processante -que avaliou o caso de agosto de 94 até anteontem.
No ano passado, dois professores da Escola Politécnica -um livre-docente e um mestre por ele orientado- também foram demitidos por plagiarem uma tese de doutoramento de uma pesquisa canadense.
Lídio de Souza, após a decisão de demitir a professora que o plagiou, afirmou que deverá defender sua tese na USP até o início do ano que vem. Seu doutoramento foi suspenso enquanto correu o processo de plágio.
Na casa de Luiza, a mulher que atende ao telefone afirma que a professora mudou.

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