São Paulo, quarta-feira, 18 de outubro de 1995
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Bomba em metrô deixa 29 feridos no centro de Paris

VINICIUS TORRES FREIRE; ERIKA PALOMINO
DE PARIS

A explosão de uma bomba no metrô feriu 29 pessoas na manhã de ontem em Paris.
Um botijão de gás cheio de pregos e porcas explodiu no segundo vagão do trem que ia da estação Musée d'Orsay para a de Saint Michel, num dos trechos mais nobres da capital francesa.
Cinco homens ficaram feridos gravemente. Dois deles, que perderam ou braço ou perna, correm risco de vida.
A polícia diz não ter reconhecido nenhuma reivindicação. Cerca de 20 testemunhas foram interrogadas. Não há pistas de suspeitos.
A TV mostrou um homem algemado ser levado a um furgão da polícia. Segundo os policiais, o homem era só uma testemunha e foi liberado após interrogatório.
Este é o oitavo atentado, ou tentativa, desde julho deste ano -dos quais seis ocorreram em Paris. As bombas mataram sete pessoas e feriram outras 162.
O ataque terrorista de ontem ocorre a cinco dias do encontro previsto entre os presidentes Jacques Chirac, da França, e Liamine Zéroual, da Argélia.
Os autores dos atentados seriam membros ou simpatizantes do Grupo Islâmico Armado, conjunto de grupos guerrilheiros fundamentalistas islâmicos que combate o governo militar argelino, que dizem ser apoiado pela França.
A Argélia está em guerra civil desde o começo de 1992, quando um golpe cancelou eleições que vinham sendo ganhas por partidos islâmicos, extintos pelos golpistas.
No dia 16 de novembro próximo, ocorre o primeiro turno da eleição presidencial argelina, tida como farsa e boicotada pelos principais partidos. Zéroual, favorito, é um dos quatro candidatos.
Chirac e Zéroual vão se encontrar, a pedido do argelino, durante as comemorações do 50º aniversário da ONU, em Nova York.
A edição do último dia 13 do boletim "Al Ansar", dirigido à comunidade islâmica do norte da Europa e tido como porta-voz oficioso de facções do GIA, anunciava que as cidades francesas seriam vítimas de novos atentados.
"O envolvimento da França nas areias movediças argelinas é um suicídio", dizia o boletim, que mostrava na capa um desenho da explosão da Torre Eiffel.
O "Al Ansar" lembrava também a morte de Khaled Kelkal: "O sangue do mártir servirá de luz para todos aqueles que seguem o caminho da guerra santa".
Kelkal, jovem francês de origem argelina da periferia de Lyon, suspeito de atentados em sua cidade e Paris, foi morto pela polícia francesa no dia 29 de setembro.
O Sindicato Geral da Polícia havia anunciado no sábado que "os colegas" tinham "informações de que uma nova onda de atentados poderia começar" nesta semana.
Ontem, Jean-Louis Arajol, presidente do sindicato, disse à Folha que os policiais estão cansados, submetidos a uma extrema pressão e não sabem mais o que fazer para combater os atentados. Arajol disse que o encontro Chirac-Zéroual teria irritado os policiais.
Lionel Jospin, presidente do Partido Socialista, de oposição, disse às rádios que "no governo, não admitiria esse encontro".
Num longo pronunciamento na Assembléia Nacional, o primeiro-ministro Alain Juppé disse que o encontro Chirac-Zéroual está mantido e que a "voz da França não será calada por atentados covardes". Juppé reiterou que os franceses não apóiam o candidato Zéroual. Todos os partidos políticos se disseram solidários à política governamental antiterrorismo.
A França é o maior parceiro comercial da Argélia e presta ajuda anual de cerca de US$ 1 bilhão ao país africano.
Para o governo francês, não há relação direta entre o atentado de ontem e o encontro de Chirac e Zéroual. Segundo a assessoria de Chirac, os atentados começaram antes do anúncio do encontro. O convite de Zéroual teria sido aceito por causa da onda de ataques.
Segundo informou sua assessoria, Chirac diz que não está intervindo na política argelina nem apóia o governo militar do país do norte da África.

Desfiles
A bomba de anteontem não afetou o andamento dos lançamentos de moda. A única mudança foi que mais gente ficou com medo de andar de metrô e tomou táxi.
Houve uma verdadeira guerra para sair e chegar às locações dos desfiles, numa temporada em que muitos estilistas preferiram se apresentar fora do lugar oficial, as salas subterrâneas do Carrossel do Louvre -talvez por medo.
Em todos os desfiles no Louvre os convidados sofrem revista nas bolsas e são examinados por detectores. O processo retardou ainda mais a entrada das pessoas e tumultua ainda mais o acesso.
O resultado é que viraram moda imediata as bolsas de plástico transparente. Nos desfiles fora do Louvre não há qualquer tipo de revista, e a confusão é ainda maior.

Colaborou ERIKA PALOMINO, enviada especial a Paris

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