São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 1995
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Jovem Guarda se reúne em comemoração

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

O que poderia haver de mais óbvio para homenagear os 30 anos da Jovem Guarda, a versão brasileira do pop dos anos 60, que reunir toda a patota para um disco comemorativo? Pois a patota ignorou o óbvio e cometeu o quíntuplo "30 Anos de Jovem Guarda - Os Reis do Iê Iê Iê", que acaba de ser lançado.
Mais que óbvia, a idéia é maquiavélica. Erasmo Carlos, Wanderléa, Ronnie Von e Jerry Adriani retomam os hits do movimento juvenil para pisoteá-los em troca de alguns tostões.
O pretexto de refazer as canções como elas eram originalmente não cola. É nítido o cansaço das vozes de 99% da Velha, ops, Jovem Guarda. E, como homenagem, uma coleção abrangente das gravações originais cairia melhor -foi o que fez a Sony há um mês.
Roberto Carlos
O fato é que falta Roberto Carlos, o rei da patota, que negociou participação, mas não fechou.
Farpas não faltaram. Ronald Antonucci, dos Vips, disparou: "Ele (Roberto) é um maníaco. Fala com planta e conserta asa de libélula."
Segundo Antonucci, Roberto só participaria se o clássico "Quero que Vá Tudo pro Inferno" não fosse incluído. "Ele não canta mais essa música por que fala de inferno", diz.
Como Roberto ficou de fora, a melhor canção da Jovem Guarda acabou entrando, assassinada pelo elenco todo. Um quer aparecer mais que o outro, e sobram uivos de cantoras seminais como Vanusa, Martinha, Silvinha, Waldirene.
Por outro lado, há a participação de Caetano Veloso, em "O Calhambeque". É a melhor faixa do disco, de longe.
Nenhum mérito, diga-se. Não é difícil fazer papel bonito se a concorrência inclui Wanderley Cardoso, Cleide Alves, Sérgio Reis e outros reis da juventude embolorados pelo tempo.
No mais, Caetano pouco tem a ver com o projeto fora do âmbito do lucro almejado.
Passadas as ressalvas, resta a delícia daquelas inesquecíveis canções. Nada pode apagar o brilho da "Diana", de Carlos Gonzaga, do "Passo do Elefantinho", do Trio Esperança, de clássicos inacreditáveis como "Tijolinho", "Coruja", do "Doce, Doce Amor" de Jerry Adriani.
Tais pérolas encontram-se incrustadas no imaginário de qualquer um que tenha sido criança, adolescente ou adulto em qualquer ano pós-1965.

Disco: 30 Anos de Jovem Guarda - Os Reis do Iê Iê Iê (cinco CDs)
Lançamento: PolyGram
Preço: R$ 18 (em média, o CD)

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