São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995 |
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Pesquisador critica 'ejaculação tecnocrática'
FERNANDO DE BARROS E SILVA; RICARDO BONALUME NETO
Essa foi a imagem mais contundente usada pelo cientista político Wanderley Guilherme dos Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), para criticar o afã reformista que toma conta das cabeças pensantes do governo FHC. Integrante da mesa-redonda “Reforma do Estado”, a mais concorrida de ontem na 19ª reunião anual da Anpocs (Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), que termina hoje em Caxambu (MG), Wanderley afirmou que há hoje no governo mais vontade de reformar do que clareza sobre o conteúdo dessas reformas. A expressão “masturbação sociológica”, a que Wanderley aludiu, foi forjada pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, quando criticou há alguns meses o excesso de discussão e a incapacidade de decidir do governo. O sociólogo Luciano Martins, assessor especial de FHC, a quem caberia explicitar a posição do governo sobre as reformas, cancelou sua participação no encontro. Sem o interlocutor governista à mesa, Wanderley perguntou à platéia: “Queremos Estado para fazer o quê? Sem responder a essa pergunta, não sei se é preciso que o Estado tenha 800 mil ou 3 milhões de funcionários, não sei se é preciso privatizar a Vale do Rio Doce ou criar cinco outras”, respondeu. Se o objetivo do Estado for criar “a boa sociedade, como dizia Aristóteles”, prosseguiu Wanderley, “isso não será obra de tecnocrata, mas sim de uma guerra prolongada e de uma longa caminhada”, concluiu, citando uma frase de Mao Tse-Tung, líder da revolução comunista na China, em 1949. Coube à cordenadora da mesa, a socióloga Maria Hermínia Tavares de Almeida, professora do Departamento de Ciência Política da USP, o papel de elucidar os pontos de consenso entre os debatedores. Fazendo referência à fala de Wanderley e às palestras dos sociólogos da Universidade de Chicago Adam Przeworski (polonês) e Bernard Manin (francês), presentes à mesa, Maria Hermínia destacou três concordâncias gerais. “Primeiro, que o Estado está mudando; segundo, que o Estado vai continuar ativo, contra as previsões neoliberais; e terceiro, que é preciso aprimorar os mecanismos institucionais capazes de aumentar o controle do Estado por parte dos cidadãos”, disse Hermínia. Em relação ao último tópico, Przeworski lembrou que a crescente importância de organismos supra-nacionais, como o FMI, sobre a política de cada país, desafia a transparência dos Estados, já que é muito difícil exercer qualquer espécie de controle público sobre essas entidades, que pairam como fantasmas acima das fronteiras. Texto Anterior: Taxista fica preso 12 horas em porta-malas Próximo Texto: Antropóloga analisa fast-food Índice |
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