São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Sem proibições

WILSON BALDINI JR.

Basta acontecer um caso de morte para ressurgir a velha pergunta: o boxe deve ou não ser proibido?
Em um esporte no qual cerca de 90 mil lutas, segundo o Conselho Mundial, são realizadas por mês, o índice até que é pequeno, comparado a outros esportes como ciclismo, vôo livre e motociclismo.
As pessoas só sabem ressaltar o lado ruim do pugilismo. É evidente que o boxe é violento. Mas ninguém é obrigado a subir em um ringue. Não há lembrança de um único campeão mundial dos pesados que tenha morrido por lesões.
Somente porque a fiscalização e a organização são perfeitas. Como prova, esta aí Max Schmeling, que completou 90 anos em setembro.
E falar no mal de Parkinson de Muhammad Ali é um erro: a doença de Ali é genética. Os outros milhares de portadores nunca calçaram um par de luvas.
Pior aconteceu com Ken Norton, que sempre vendeu saúde e, após acidente de carro, hoje mal consegue falar devido ao excesso de fraturas no corpo. Então vamos proibir o uso de carros? Ora.
O problema do boxe está na estrutura. Como na maioria dos esportes, os dirigentes nunca praticam a atividade e apenas procuram seus interesses, não dando a mínima para a integridade dos atletas.
Exemplo típico aconteceu neste ano, no Brasil: Maguila foi brutalmente nocauteado por Mike Evans, em março, e, 50 dias depois, estava lutando. Um absurdo!
No regulamento das principais entidades está previsto que o lutador deve ficar quatro meses afastado, em observação e fazendo exames médicos. Não interessa se ele "está se sentindo bem".
Mas é aí que o interesse dos empresários passa por cima de toda a legalidade. E se o Maguila perdesse na luta seguinte, por nocaute, e morresse. Aí o boxe é violento?
Não nos venham com radicalismos. Queremos soluções. George Foreman propôs o uso de protetores de cabeça, assim como no amadorismo. Mike Tyson fulminou: "Todos que vivem do boxe sabem que ele é violento, feito para homens valentes e que sabem dos riscos que estão correndo. Sou contra até em treinamentos".
Proibir? Só se for a arrogância de gente que só se lembra da nobre arte (que é esporte e o mais antigo de todos) quando há uma luta de Tyson, somente para aparecer.
Proibir? Só se for para que gângsters continuem lucrando à custa do nocaute da honestidade e do bom senso.
Proibir o boxe, jamais.

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