São Paulo, sexta-feira, 20 de outubro de 1995
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Duvidosa fé nos juros

A crítica do presidente Fernando Henrique Cardoso ao que se poderia chamar de fé excessiva nos juros altos encontra respaldo em grande parte dos economistas mais respeitados do país, ainda que, evidentemente, não haja unanimidade.
É inegável que a moderação do ritmo de crescimento ajuda no combate à inflação. Mas o estrangulamento de largos setores da iniciativa privada e os gastos descomunais impostos pelos juros à União, a Estados e municípios turvam o horizonte econômico. E o governo não se mostra capaz de equacionar satisfatoriamente esse problema.
As autoridades não esgotaram os instrumentos de contenção da atividade que menos custam ao erário, como restrições legais às compras a prazo, antes de apelar para a manutenção de juros sem igual no mundo. Aliviaram-se antes os compulsórios bancários, que não custam como os juros e têm efeito mais inequívoco sobre o consumo.
O fato é que o rápido crescimento da dívida pública é altamente preocupante. E as tentativas de minimizar a gravidade desse fato só fragilizam a argumentação oficial.
Entre junho e agosto últimos a dívida federal saltou de R$ 69,5 bilhões para R$ 92,3 bilhões. Desse aumento de R$ 22,8 bilhões apenas US$ 10,1 bilhões deveram-se à compra de divisas, segundo a mais recente "Nota para Imprensa" divulgada pelo BC. O restante mostra mesmo a deterioração das contas públicas, fortemente impulsionada pelo ônus dos juros que o presidente já chamou de "escorchantes", mas ainda não determinou que caiam para patamares civilizados.

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