São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995
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ONGs e governo federal financiam MST

JOSÉ MASCHIO; GEORGE ALONSO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA

O dinheiro que financia o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) tem origem em entidades religiosas e não-governamentais (ONGs) da Europa, na contribuição de trabalhadores já assentados -que doam uma parte do que rendem as suas colheitas- e também em recursos federais.
Origem semelhante tem o dinheiro que financia a CPT (Comissão Pastoral da Terra), da Igreja Católica.
O MST e a CPT usam esses recursos para manter um exército de "liberados", ou os profissionais da invasão e ocupação de terras.
Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST, diz que o orçamento da entidade neste ano é de R$ 820 mil. Em 1994, teria sido de R$ 720 mil. Só a doação conseguida pelo movimento no Paraná, no entanto, indica que esses valores estão muito aquém do real.
Apenas neste ano, por exemplo, o movimento conseguiu, no Paraná, cerca de US$ 1 milhão em recursos vindos de entidades da União Européia para a implantação de projetos agroindustriais em assentamentos.
A Associação Cooperativa Tecnológica, da Bélgica, financiou no Estado frigorífico, beneficiadoras de arroz e milho, uma ervateira (processadora de erva-mate) e unidades de armazenagem.
Uma das dificuldades para saber quanto, exatamente, o MST movimenta está na política financeira da entidade.
O processo de arrecadação é descentralizado. As coordenações de cada um dos 22 Estados em que o MST atua controlam seu próprio caixa. Fazem bingos e rifas para financiar viagens e outros custos, como a impressão de folhetos.
A maior parte do dinheiro, no entanto, tem mesmo origem oficial. Decorre dos financiamentos para o plantio feitos pelo próprio governo. O Procera (Programa de Crédito Especial para Reforma Agrária) é um deles. A verba sai para os agricultores a fundo perdido, e o MST leva uma parte.
Outra fonte de financiamento do movimento é a doação que cada ex-sem-terra já assentado faz à entidade. Também a cobrança desses "impostos da ocupação" é diferenciada de Estado para Estado.
No Paraná, por exemplo, cada lavrador assentado doa duas sacas de milho por ano para o movimento. Dos financiamentos do Procera, 3% vão para o movimento. Rogério Mauro, 22, coordenador do MST no Estado, afirma que as doações são uma norma, "nunca uma imposição".
Nos últimos dois anos, outra fonte de recursos do movimento têm sido as cooperativas de reforma agrária. Elas organizam a produção dos assentamentos em todo o país e distribuem dividendos para as novas ocupações.

Colaborou GEORGE ALONSO, enviado especial ao Pontal do Paranapanema

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