São Paulo, domingo, 22 de outubro de 1995 |
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rituais dos sexos
MARIO VITOR SANTOS homens minimizam a importância de suas dúvidasNovas posições assumidas pelas mulheres têm levado a interessantes estudos sobre a atitude delas no trabalho, em contraste com a dos homens. Diferentes estilos de comunicação têm sensíveis repercussões sobre a posição relativa de ambos os sexos, com desvantagem para as mulheres. É a conclusão de um estudo denominado "O Poder da Fala", da linguista Deborah Tannen, publicado no último número da "Harvard Business Review", de onde foi extraída a maioria dos argumentos que se seguem. Segundo ela, desde pequenos, homens e mulheres se diferenciam na maneira de usar a linguagem. Meninas tendem, em geral, a brincar com uma única melhor amiga ou em pequenos grupos. A fala expressa quão próximas elas são umas das outras. A melhor amiga é aquela a quem você conta seus segredos. Desde cedo, tendem a isolar as que se gabam de sua superioridade. Os meninos, não. Normalmente brincam em grupos maiores, nos quais a regra é a diferenciação. Os que têm mais poder no grupo não escamoteiam. Do líder espera-se que lidere e reafirme sua ascendência. Dar ordens é a via de obter e manter o status. Contar histórias, piadas, também ajuda. As meninas querem acordo e cumplicidade. Os meninos preferem o poder. As pesquisas de Tannen pelos Estados Unidos levaram-na à conclusão de que atitudes no emprego são um desenvolvimento dos papéis desempenhados na infância. Em reuniões profissionais, por intensa que seja a participação da mulher, por melhores que sejam as suas idéias, há a tendência de que algum homem leve o crédito como responsável pela maioria das sugestões. Não é incomum o caso em que uma mulher diz algo e é ignorada e logo em seguida algum homem faz sucesso com a mesma idéia. Só chefes muito atentos conseguem avaliar quem contribuiu realmente. Homens são mais voltados a usar a liguagem para se colocar acima do grupo. As mulheres preferem disfarçar eventuais vantagens e falar de maneira a "livrar a cara" dos outros em posição inferior. Julgamentos de competência surgem também na maneira e na intensidade com que se fazem perguntas. Homens costumam achar que fazer perguntas pode ser interpretado como ignorância, o que os colocaria em posição de inferioridade. Veja se você já não presenciou a situação: um casal está numa viagem tentando descobrir o caminho. Quem, na maioria das vezes, sugere primeiro que se pare o carro para pedir informações na beira da estrada: o homem ou a mulher? Os homens minimizam a importância de suas dúvidas. No trabalho, é normal que se interpretem perguntas de mulheres para homens, muitas vezes feitas pelo hábito cortês de se reduzir diferenças, como busca de conselho profissional e de crítica. A inclinação dos homens é não perder essa oportunidade para se diferenciar e galgar um degrau. Essa posição relativa dos sexos é milenar e só começa a ser alterada. Já há quem especule, por exemplo, que o terno masculino tem os dias contados, após três séculos de dominação absoluta como ícone de poder. Quem sabe as meninas também não começam a dar cascudos umas nas outras e nos meninos, desde pequenas? Ilustração: "Garota afogando", óleo sobre tela de Roy Lichtenstein, 1963 Texto Anterior: a fina do clube Próximo Texto: ela trocou a bola pela voz e o violão Índice |
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