São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Brasil comemora a chegada do lixo mundial

MARCELO PAIVA
COLUNISTA DA FOLHA

Fala, maluco. Tem umas coisas neste Brasil que não estão me cheirando bem. Se não me engano, está tudo errado, todos desbundados, vivendo a falsa esperança de entrar para um tal Primeiro Mundo que nem existe mais.
Alô, Brasília, o mundo mudou. O modelo, aquele modelo, de progresso é outro. Ninguém mais quer saber de grandes indústrias, grandes projetos, grandes Estados, grandes negócios, grandes empreendimentos. O segredo do futuro está no pequeno, no negócio caseiro, de alta tecnologia e pouca chateação.
No Brasil comemora-se a chegada de novos investimentos: fábricas. Estão dizendo que o país progrediu porque a Renault, a Mercedes e não sei mais quem vão construir carros em solo pátrio.
Na verdade, as grandes empresas estão se mudando para o México, a Zâmbia e o escambau, onde não há controle de poluição nem preocupações com o meio ambiente.
Estão transferindo as indústrias sujas para o Brasil, enquanto ficam nos países ricos as empresas de pesquisa tecnológica (limpas), com seus computadores interligados, dando ordens à distância, vivendo num paraíso em termos de qualidade de vida.
Não são mais os senhores Ford ou Honda os donos do mundo, mas Bill Gates, Hewlett e Packard. Não é o carro o negócio do futuro, mas a bicicleta. Não são as indústrias que simbolizam o progresso, mas os parques.
A revolução industrial acabou. A palavra de ordem agora não é mais riqueza, mas qualidade, conforto, paz, lazer e informação livre e barata.
O ideal do homem moderno é o sujeito culto, saudável, que trabalha pouco e ganha o mínimo para viver, com direitos e uma ética nascida de baixo para cima (o tal "politicamente correto"). E, mais uma vez, ficaremos vários passos atrás do futuro.
A esperança está em quem? Em você, parceiro, que com sua sábia inocência está provando que entende mais do que está acontecendo no mundo do que os senhores do poder.
A prova disso é a relação candidato/vaga do próximo vestibular da Fuvest. Os cursos mais concorridos são publicidade, jornalismo e turismo -informação e lazer.
Aliás, nos meus tempos de USP (começo dos anos 80), a Faculdade de Turismo vivia às moscas. Ninguém sabia que era a indústria que mais crescia na década (8% ao ano, segundo a OMT -Organização Mundial de Turismo). Você sabe.
Todo poder aos teens!

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