São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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Sasaki une butô e expressionismo alemão

ANA FRANCISCA PONZIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Erramos: 23/10/95
A estréia do coreógrafo Mitsuru Sasaki no 5º Festival Internacional de Artes Cênicas foi adiada de hoje para amanhã. Em razão de problemas burocráticos no aeroporto, o coreógrafo não embarcou para o Brasil no sábado à noite, diferentemente do que informa reportagem publicada à pág. Especial-1 ( Acontece) de hoje. O adiamento foi divulgado pela assessoria de imprensa do festival após a conclusão da edição.
Espetáculo: Human Power Flight, com Mitsuru Sasaki
Quando: hoje e amanhã, às 21 horas
Onde: Sesc Ipiranga (r. Bom Pastor, 822; tel. 011/ 273-1633)
Ingressos: R$ 20,00. Maiores de 65 anos, comerciários, estudantes e classe artística, com carteirinhas, têm 50% de desconto. Entregas a domicílio, com acréscimo de R$ 6,00, através da Disk Ingresso, tels. 011/ 284-6537 e 285-5316.

A dança de Mitsuru Sasaki é uma fusão singular entre butô e expressionismo alemão. Em apresentação solo, este discípulo de Kazuo Ohno e Susanne Linke participa hoje e amanhã do 5º Festival Internacional de Artes Cênicas, com o espetáculo "Human Power Flight".
"Comecei minha carreira no Japão, estudando dança clássica, moderna e depois butô. Em 1981 mudei-me para a Alemanha, onde fui fortemente influenciado pelo expressionismo, que me fez desenvolver um estilo misto", disse Sasaki à Folha por telefone, de Wuppertal, onde mora, pouco antes de embarcar para o Brasil, no sábado. Nascido na cidade japonesa de Aomori em 1944, Sasaki começou a coreografar quando ainda integrava a companhia de Susanne Linke, onde se destacou como um de seus mais carismáticos intérpretes.
Há dez anos, ele veio ao Brasil com Linke. "Foi quando descobri a música de Naná Vasconcelos, que faz parte da trilha sonora de 'Human Power Flight' ", comenta.
"Mais tarde, quando Naná Vasconcelos realizou concertos com orquestra na Alemanha, decidi dançar sua música fascinante, que me desperta sentimentos de uma certa saudade da cidade materna".
Em "Human Power Flight", Sasaki combina a música de Naná Vasconcelos a composições de Strauss, Samuel Nori, Wolfgang Rihm, Heinz Robert, Schumann e Beatles.
"Neste espetáculo, que apresentei pela primeira vez em 1989, em Duesseldorf, falo de um homem cuja história sugere que as pessoas podem voar com suas próprias asas, através do poder humano, sem depender de qualquer engenho mecânico ou tecnológico."
Sasaki acha que desenvolveu um estilo único. "Não é japonês, nem europeu. À medida que interpreto os limites entre vida e morte, tenho pontos de contato com a filosofia de Kazuo Ohno."
"Mas, também tenho a precisão que aprendi com Susanne Linke, aquele conceito de que dança deve ser exercitada arduamente, todos os dias, tornando-se uma expressão da vida cotidiana."
Em Wuppertal, Sasaki trabalhou de 1981 até 1988 na Folkwang Tanzstudio, berço da dança expressionista alemã. Para o grupo de dança desta instituição de ensino, criação e pesquisa, que tem Pina Bausch como uma de suas diretoras, criou várias coreografias.
Ao longo da década de 80, ganhou prêmios internacionais, participou de produções da coreógrafa Carlotta Ikeda, que também tem raízes no butô e, ao desligar-se da Folkwang, fundou seu próprio grupo, a Sasaki Dance Company.
"Human Power Flight" marca o início da fase autônoma de Sasaki, que hoje atua como artista free-lancer.
Na concepção visual, "Human Power Flight" segue parâmetros ocidentais, com cenografia, iluminação e figurinos assinados por artistas europeus.
Fugindo a classificações, a dança de Sasaki é um entrelaçamento de estilos que ressoam um no outro. Tanto Kazuo Ohno como Susanne Linke beberam numa fonte comum: a dança de Mary Wigman (1886-1973), coreógrafa alemã que além de ser uma das pioneiras da dança moderna em seu país, tornou-se um dos símbolos do expressionismo.
Wigman forneceu referências ao butô. Linke, em geração seguinte, estudou com Wigman em Berlim, entre 1964 e 1967.
Por sua vez, Mitsuro Sasaki reinterpreta este percurso da dança moderna que, na verdade, começou no início do século. Fazendo uma interligação entre pontos nem tão distantes, Sasaki promove um reencontro, gerando uma renovação estética livre de fronteiras.

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