São Paulo, segunda-feira, 23 de outubro de 1995
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A crise dos católicos

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - Nenhuma religião havia desafiado a Igreja Católica no Brasil como a Igreja Universal acaba de fazer. E ao fazê-lo os seguidores de Edir Macedo conseguiram duas façanhas que pareciam impossíveis: a unificação do comando episcopal dos católicos, há anos às turras, e o despertar dos fiéis, que estavam indiferentes à crise da Igreja.
Não há dúvida de que foi um erro estratégico da Igreja Universal.
As relações entre católicos e pentecostais foram tensas desde o início do século, quando chegaram os primeiros pregadores estrangeiros. A estratégia dessas e de outras religiões, ao longo do século, foi a de não provocar os católicos.
Algumas abdicaram do proselitismo e trataram apenas de sobreviver. Outras, como as de origem afro, buscaram essa sobrevivência no sincretismo. A missão dos pentecostais, no entanto, é a conversão. São, por definição, agressivamente proselitistas -como os católicos já foram.
Na primeira metade do século, enquanto os católicos tinham força religiosa e social e intimidavam, os pentecostais evitaram o enfrentamento direto e cresceram pelas bordas.
Quando a Igreja Católica, nos anos 60, voltou suas atenções para o combate às desigualdades sociais e o enfrentamento com o regime militar, os pentecostais encontram o caminho livre para se expressar publicamente. E desde então não pararam de crescer.
Um parêntese: responsabilizada, entre outros pecados, pelo afastamento da Igreja da assistência espiritual, a Teologia da Libertação foi a primeira vítima da expansão pentecostal.
Resta saber se a reação da Igreja Católica é para valer (e nesse caso o episódio da agressão é um novo divisor na sua história no Brasil, como foram a prisão de d. Vital em 1874 e a opção radical pelos pobres, há 30 anos) ou é passageira. Nesse caso, voltará em breve à letargia e à falta de rumo que caracterizam seus últimos anos.

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