São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995 |
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Amazônia desenvolve a 'superfruta'
ANDRÉ MUGGIATI
Originária das regiões de igapó (matas alagadiças) dos rios da Amazônia, a fruta possui alto teor de vitamina C. Análises mostraram que o camu-camu apresenta concentração média de até 2.880 miligramas (mg) de vitamina por 100 gramas (g) de polpa, enquanto a acerola possui 1.790 g e a laranja cerca de 40,9 mg por 100 g de polpa. "Com sabor próprio e cor atraente, a fruta é uma ótima opção em termos de vitamina C", afirma o pesquisador Sidney Alberto Ferreira, do Inpa. Segundo ele, o camu-camu é mais resistente e tem casca mais grossa do que a acerola. As áreas de igapó ficam localizadas ao longo dos rios de águas escuras da Amazônia e permanecem alagadas pelo menos seis meses por ano. Na floresta, a planta produz frutos apenas uma vez por ano, entre fevereiro e março. A viabilidade comercial da fruta melhorou depois que os pesquisadores do Inpa desenvolveram o plantio em terra firme, que permite até três colheitas anuais. O plantio em terra firme na Amazônia não exige o uso de irrigação. O único cuidado é o uso de cobertura morta, com folhas capinadas, ao redor do caule. Pesquisas futuras, segundo Ferreira, devem determinar as necessidades hídricas da planta e podem melhorar sua produtividade. O camu-camu é uma planta arbustiva, com poucas folhas e sem copa abundante. A planta adulta chega a três metros. A primeira safra demora quatro anos. A fruta tem cerca de três centímetros de diâmetro. O aspecto da planta não é muito animador nos primeiros anos. O caule é fraco e os galhos tombam com o peso dos frutos. A produção obtida até agora foi de nove toneladas por hectare/ano. Em terra firme, a produção é semelhante à do igapó, mas permite a colheita o ano todo. Outras pesquisas estão tentando melhorar a planta geneticamente, por meio de enxertos com variedades mais produtivas. A planta mais próxima ao camu-camu (Myciaria dubia) é a jabuticaba, diz Ferreira. O sabor dos frutos também é parecido, mas o camu-camu é mais ácido, devido ao alto teor de ácido ascórbico (vitamina C). A estrutura da fruta é semelhante à da jabuticaba: uma casca que se rompe, a polpa e a semente no centro. O dentista Armando Mori, de Manaus, produziu oito toneladas da fruta em 94, em regime de extrativismo (coleta na floresta). Mori montou um laboratório para despolpar o fruto (separar as sementes da polpa). "Empresários japoneses chegaram a me procurar, interessados em comprar polpa. Mas eles queriam muitas toneladas e não deu para atender", disse Mori. O Inpa desenvolveu uma tecnologia de congelamento e transformação da polpa em pó, que possibilita a exportação do fruto. Há cerca de um ano, os pesquisadores do Inpa descobriram uma nova planta com frutos semelhantes ao do camu-camu e também com alto teor de vitamina C. Próximo Texto: Planta chega a São Paulo Índice |
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