São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Covas ironiza fala de FHC sobre a venda do Banespa

SILVANA DE FREITAS; OLÍMPIO CRUZ NETO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador de São Paulo, Mário Covas, reagiu ontem à declaração do presidente Fernando Henrique Cardoso favorável à privatização do Banespa afirmando que essa "é uma decisão do seu dono, e não de terceiros".
FHC havia dito na véspera, em Nova York, que a privatização é seu desejo pessoal. Foi a primeira vez que o presidente se pronunciou sobre a venda do banco, sob intervenção do Banco Central desde dezembro. Covas e a maioria dos políticos paulistas se opõem à privatização.
Em vez de responder à declaração de FHC, Covas preferiu ironizar a suposta demora do BC em cumprir a privatização desejada por FHC. "Isso ainda não ocorreu, provavelmente, porque (o BC) não quer atender o presidente."
O governador sugeriu que o BC encontre uma solução para a dívida do Estado com o Banespa, antes da decisão pela sua privatização.
O argumento do governador é de que, mesmo para privatizá-lo, o BC terá de resolver o problema da dívida. Segundo ele, "ninguém é louco" de comprar o banco por R$ 50 milhões, por exemplo, assumindo crédito atrasado de R$ 13 bilhões junto ao Estado.
Pelo raciocínio do governador, o Banespa poderia permanecer sob o controle do Estado. "Se o Banco Central pode resolver esse problema da dívida para terceiros, não pode resolver para São Paulo?", indagou.
O governador cobrou do governo federal um tratamento diferenciado para o Estado, segundo ele responsável por metade do recolhimento de impostos do país.
Ele disse que a União tem uma dívida de R$ 1,2 bilhão com o Banespa -em forma de títulos da dívida externa. Covas tem utilizado essa argumentação para lembrar que o governo federal também teve de pedir abatimento de sua dívida junto aos credores externos, entre eles o Banespa -que tem agências no exterior.
Covas defendeu a criação de um fundo que seria utilizado como forma de pagamento de parte do débito paulista junto ao Banespa.
O fundo proposto pelo governador seria administrado pela Nossa Caixa Nosso Banco, estadual, que iria recolher os recursos obtidos com a venda dos bens do Estado.
Covas foi irônico nas críticas à proposta de privatização em vários momentos da entrevista que concedeu ontem de manhã, após cerimônia de entrega da Ordem do Mérito Aeronáutico, na Base Aérea de Brasília.
Inicialmente, disse que não responderia à declaração de FHC em Nova York porque tem boas relações com o presidente, companheiro de partido desde a fundação do PSDB. "Sou muito mais amigo dele do que... de quem? Do Figueiredo, por exemplo", comentou.
"A lei está do lado deles (BC) porque permite que o interventor, independente do acionista, faça o que quiser", afirmou.

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