São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentinos queimam santos católicos

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

Os argentinos que assistiram ao culto da Igreja Universal do Reino de Deus dirigido pelo próprio Edir Macedo, no último domingo, em Buenos Aires, começaram a queimar objetos e relíquias católicas.
Ontem, no templo-sede, localizado no bairro de Flores, a dona-de-casa Maria Laura Garcia, 58, era uma das que admitia ter destruído imagens religiosas.
"Eu relutei um pouco", disse à Folha. "Mas coloquei todos os meus santos e os ramos que eu guardava da Semana Santa em uma lata e toquei fogo."
A seu lado, Luzia Gonzalez, 53, dizia já ter cumprido semelhante tarefa e elogiava o sermão de Macedo. "Foi estupendo".

Pedra e espadas
A eliminação dos objetos do ritual católico, no entanto, é acompanhada pela introdução de outros, característicos da Igreja Universal.
No culto das 16h de ontem, o pastor Marques conseguiu fazer com que cerca de 600 pessoas formassem filas para entregar suas doações em dinheiro e tocar uma pedra marrom opaca.
"Deixem suas oferendas, passem a mão na Bíblia, depois na pedra, e peçam a Deus que lhes recupere a saúde econômica", instruía o pastor.
Em outro culto acompanhado pela Folha, o bispo Marcus Vinícius Vieira, 30, benzia espadas de plástico verde e dizia aos fiéis que eram símbolos da proteção divina.
As mulheres, por sua vez, levavam flores, que eram borrifadas com um perfume bento. As pétalas, igualmente, deveriam ser preservadas nas suas casas.

Novos ataques
Edir Macedo escolheu um país católico, a Argentina, para retomar seus ataques contra a suposta "idolatria" às imagens de santos, no último domingo.
Segundo adeptos da religião ouvidos pela Folha, Macedo teria dito que uma imagem precisa das pernas dos outros para andar e dos olhos dos outros para ver.
Em seguida, teria afirmado que os fiéis da Universal só pediriam ajuda a uma imagem se fossem loucos, idiotas ou malucos.
Cuidadoso, Macedo discursou durante uma hora e 45 minutos para uma platéia de cerca de 800 pessoas. Não mencionou especificamente a Igreja Católica ou Nossa Senhora Aparecida.
Segundo a Folha apurou, a Conferência Episcopal Argentina está estudando uma reação adequada às críticas indiretas que Edir Macedo fez à Igreja Católica.
Cerca de 90% da população argentina se diz católica. Mas, de acordo com pesquisas da Fundação Spes (Serviço para o Esclarecimento sobre Seitas), há 1.800 cultos evangélicos espalhados pelo país.

Texto Anterior: Universal oferece tempo a católicos em TV
Próximo Texto: Polícia investiga incêndio no DF
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.