São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Houston, e quem mais?

FÁBIO SORMANI

Sete edições do McDonald's Championship, sete campeões da NBA. Depois de Milwaukee Bucks, Boston Celtics, Denver Nuggets, New York Knicks, La Lakers e Phoenix Suns, no último fim-de-semana foi a vez de o Houston Rockets ganhar o torneio, que já foi McDonald's Open -passou a ser "championship" porque agora só conta com campeões.
Mais uma prova inconteste de que não há e nem haverá adversários para qualquer time da NBA.
Assim como não há e nem haverá seleção que, um dia, ousará enfrentar de igual para igual uma seleção de profissionais da NBA.
Por quê? Teorias não faltam. Tenho a minha. Vamos a ela...
Para mim, a NBA está uma galáxia na frente do basquete praticado no resto do planeta porque: a) nos EUA existe organização -embora na Europa haja organização também; b) a NBA não ficou engessada pelas leis da Fiba e criou as próprias, tornando o esporte mais competitivo e envolvente; c) a base do basquete -como de todo o esporte- dos EUA está na escola, não nos clubes.
Este último tópico, a meu ver, é o mais importante de todos.
Associando o basquete com a escola, os EUA abriram os braços para todos os garotos que desejam praticar basquete. Com isso, o jogador não vai enfrentar, mais cedo ou mais tarde, o seguinte dilema: estudo ou jogo? Jogo ou estudo?
O sistema norte-americano permite que o garoto jogue e estude. Isso é possível e desejável -assim eles raciocinam.
Fora dessa equação, o que acontece no resto do planeta é o seguinte: muitos dos atletas, craques de basquete, por pressão familiar, acabam por deixar o esporte para ir à faculdade. Afinal, a maior parte dos jogadores vem da classe média -claro, ela é que tem acesso aos clubes- e esta, na maioria, não admite que seus filhos troquem o estudo pelo esporte.
Assim, quantos craques o planeta deixa de conhecer por causa disso? No Brasil, com mais um agravante: quantos craques devem existir nas favelas deste país?
Jogadores que nem sequer pegam uma bola de basquete porque ela é propriedade dos clubes e não das escolas, que é onde eles deveriam estar, jogando e estudando.
Resultado: sete McDonald's Championship, sete campeões da NBA, "Dream Team" invicto e os outros chupando o dedo e se portando como tietes quando enfrentam os norte-americanos.
Como se eles fossem de outro planeta...

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