São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Vídeo busca verdadeiro Fausto de Murnau

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O vídeo "Os Cinco Faustos de Murnau", produzido pela Filmoteca Espanhola, prova: a restauração de filmes clássicos vem exigir também toda uma revisão da produção crítica, sobretudo a dedicada ao cinema silencioso.
Foi preparando para o Projeto Lumire uma cópia restaurada do "Fausto", rodado em 1926 por F.W. Murnau, que Luciano Berriatúa descobriu o tema de seu documentário, programado para hoje, às 21h, no Masp.
Berriatúa localizou nada menos que cinco versões distintas da última superprodução dirigida por Murnau para a UFA antes de partir para sua breve odisséia americana. As diferenças são imensas e vão muito além da discrepância de cenas ou de distintas durações. A origem delas é a essência industrial da produção alemã no crepúsculo da era muda.
Murnau rodou seu "Fausto" com duas câmeras, visando aumentar suas opções de montagem. Perfeccionista, chegava a dedicar todo um dia de filmagem em busca do tom certo para cada cena. Resultado da soma total: inúmeras versões da mesma cena à disposição do montador.
Murnau supervisionou pessoalmente apenas a escolha e a montagem do material para as versões alemã e americana de "Fausto". Deu no que deu.
Além das versões trabalhadas diretamente pelo diretor, Berriatúa localizou três outros "Faustos" correndo o mundo: uma versão européia com subtítulos duplos, uma dinamarquesa e outra francesa. É esta de longe a pior de todas.
Montada pelo estúdio à revelia de Murnau, reuniu geralmente os primeiros "takes" de cada cena rejeitados pelo diretor para suas versões. A comparação entre essa cópia e a supervisionada por Murnau é um curso sobre o estilo no cinema: no mais das vezes, Murnau preferia as interpretações mais contidas, os quadros mais plásticos, o todo mais sutil.
Na francesa, planos gerais tornam-se americanos, planos médios viram "closes", erros de trucagem se sucedem. Parece que também Eric Rohmer vai ter de voltar à moviola -e rever seu estudo clássico sobre a organização do espaço no "Fausto" de Murnau.

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