São Paulo, terça-feira, 24 de outubro de 1995
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Aposentadoria militar

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA - Aposentadoria de militar brasileiro é quase como o gato. Dotada de fôlego invejável, possui quatro vidas.
Primeiro, remunera o descanso do próprio militar. Depois, ampara a viúva. Em sua terceira encarnação remunera o crescimento dos filhos menores. Por último, forra a conta bancária das filhas maiores.
Tudo estaria muito bem não fosse por um detalhe. Quem está financiando o privilégio da família militar é o contribuinte.
De acordo com estudo oficial, os militares descontaram para a Previdência algo em torno de R$ 100 milhões em 94. Uma quantia irrisória se comparada ao valor de suas aposentadorias no mesmo ano: R$ 2 bilhões, incluindo a pensão aos herdeiros. Em 95 esse número deve crescer para R$ 5,7 bilhões.
A situação tende a se agravar. Enquanto o efetivo militar mantém-se estável, o número de aposentados e pensionistas irá crescer. Nas Forças Armadas a relação é de 1,2 ativos para cada inativo. A proporção ideal seria de 4 para 1.
O levantamento foi feito pela pasta da Previdência. É assinado pelo técnico José Carlos Jacob de Carvalho. Há detalhes no estudo que ajudam a explicar as distorções.
O militar conta tempo para se aposentar antes mesmo de começar a trabalhar, já na fase de escola preparatória. Alguns penduram o quepe muito cedo, em idades que variam de 44 a 48 anos.
Com 30 anos de serviço o militar recebe um estímulo extra para deixar o quartel. Ao pedir aposentadoria sobe um degrau na hierarquia, passando a receber salário de patente mais elevada.
Em guerra contra os privilégios, o governo terá de ajustar o sistema de aposentadoria dos militares à realidade. Não é possível que as viúvas e os filhos da farda continuem dançando ao som do miado do contribuinte.
Em tempo: escrevi no domingo sobre irregularidades na compra de comida para a merenda escolar em Rondônia. Pelo telefone, o governador Valdir Raupp informa: 1) demitiu nove envolvidos, incluindo a cúpula da Secretaria de Educação do Estado; 2) encomendou abertura de inquérito, em curso no Ministério Público e 3) comunicou ao MEC que os cofres estaduais cobrirão os prejuízos.

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