São Paulo, quarta-feira, 25 de outubro de 1995
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Brasil é maior comprador de LP no mundo

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Além de país do samba e do futebol, o Brasil é o país do LP (long-play). No ano de 1994, a famosa "bolacha preta" -que, em um toca-discos, reproduz um som cheio de chiados- vendeu 14,5 milhões de unidades.
Uma quantia inferior ao ano anterior -quando foram vendidos 16,4 milhões de LPs-, mas o suficiente para colocar o Brasil como o maior consumidor de LPs do planeta.
No mercado fonográfico, o vinil representa o passado. Um formato que vem sendo rapidamente substituído pelo CD (compact disc). Nisso, o Brasil está na contramão do mercado.
Em 1991, foram vendidos 174,8 milhões de LPs no mundo, sendo que 28,4 milhões no Brasil.
A queda no mercado mundial de LPs foi vertiginosa nos últimos anos. No Brasil, a redução foi tímida. Em 94, o mundo só consumiu 37,7 milhões de LPs. Mas, 14,5 milhões foram consumidos aqui.
É verdade que não estamos sozinhos nessa marca. O mercado latino-americano é responsável por 51% das vendas de discos no planeta.
No Brasil, a vendagem de LPs se deve a dois tipos de público diferentes: o consumidor de classes economicamente mais baixas e o aficionado pelo vinil.

Calor
Essa é apenas uma das peculiaridades do mercado brasileiro. Alguns formatos não deram certo no país. Os singles -que contêm poucas músicas- são os mais famosos.
"Desde que o compacto simples desapareceu, na década de 70, nenhum tipo de single deu certo. Mas ninguém sabe o motivo. É uma pergunta que a indústria se faz até hoje", conta o diretor de Marketing da BMG, Leo Monteiro de Barros.
Ele acha que a fita cassete também não deu muito certo no país. Certamente, se compararmos ao mercado asiático -que, para a indústria fonográfica, não inclui o Japão. Enquanto por lá foram vendidas 534,2 milhões de unidades, em 1994, por aqui foram vendidas, no mesmo ano, 8,5 milhões de cópias.
"As pessoas acham que a fita se estraga no calor", explica Barros.

Estalo
No Brasil, o consumidor se divide entre o CD e o LP. E, para o mercado, a polarização vai durar por algum tempo.
Até 1993, por exemplo, apenas 7% da população brasileira tinha conseguido trocar seu toca-discos por um aparelho de CD.
Barros acredita que o LP não vai desaparecer.
O ritmo, pelo menos, é bastante lento. De 1993 para 1994, a vendagem de LPs no Brasil caiu 11,48%.
"Hoje, ainda é um produto de massa no Brasil. Mas, no futuro, terá um mercado sofisticado de audiófilos", diz.
Isso explica o crescimento do consumo do LP nos EUA, em 94.
A vendagem passou de 1,20 milhão de cópias para 1,90 milhão de unidades. Atingindo justamente o público de aficionados, que se reúnem em clubes e frequentam feiras especializadas.
Barros conta que alguns amigos ainda preferem o som com chiados do vinil ao som mais puro do CD.
"Conheço gente que não consegue ouvir um disco do Led Zeppelin sem estalo", desdenha.

Samba
Mas esse perfil é a parcela menor do comprador de vinil.
O grosso do consumo de LP se deve aos produtos mais populares. No elenco da BMG isso significa Lulu Santos, Fábio Jr., e grupos de samba, como Raça e Só Pra Contrariar.
"O LP está se tornando uma exceção", diz Barros.
Para a indústria, é mais negócio vender CD do que LP. As gravadoras passam para o lojista, o CD a R$ 10 e o LP a R$ 5, em média.
Ainda mais que esse é um mercado em expansão, que passou, no ano passado, de 13º lugar no ranking mundial para a 7ª colocação, movimentando US$ 782,5 milhões.
Mesmo assim, o brasileiro gasta pouco. Em 94, comprou 0,4 unidades, gastando US$ 4,9. Nos EUA, a vendagem per capita é de 4,1 discos -cerca de US$ 46.
É verdade que esse crescimento se deve ao boom do CD, que vendeu 91,2% a mais do que em 93.
Barros lista as vantagens do CD sobre o formato tradicional além da qualidade de som -enquanto no CD, a leitura é digital, feita a laser, no LP a leitura do disco é feita mecanicamente, por uma agulha.
Para Barros, o CD tem maior durabilidade, ocupa menos espaço, é mais prático de carregar, e nele cabem mais músicas.
Sobre quem acha que o som de um LP às vezes pode ser melhor do que o de um CD, Barros é taxativo.
"Não há nada errado em um LP que um equipamento de US$ 10 mil não resolva", ironiza Barros.

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