São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 1995 |
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'Fera do Rock' ressalta poesia do outsider
INÁCIO ARAUJO
A verdade é que "A Fera do Rock" (Globo, 1h15) escapa a esse destino industrial da rebeldia, embora produzido em um quadro hollywoodiano, e talvez seja essa a principal virtude do filme de Jim McBride. Ele maneja a narrativa com delicadeza, contrabandeando para o interior das imagens a figura fulgurante do músico Jerry Lee Lewis, o outsider do rock. Isso pode ser percebido logo no início, quando vemos um garoto branco escutar fascinado a música dos negros do sul dos EUA. Num universo racial conturbado como o norte-americano, isso é mais do que nada. Mas McBride não coloca em evidência a transgressão, e sim uma atitude de alma, uma espécie de curiosidade que desde o início transporta o jovem Jerry para fora dos limites convencionais. Assim será sua música. Assim será vida, sob a ótica de McBride. A aspiração à liberdade não é uma atitude, é uma postura de alma. Da mesma forma, ao se casar com uma prima de 13 anos. Tudo em Lewis o predispunha a criar a imagem do rebelde, do homem fora dos padrões morais estreitos da América dos anos 50. Mas nele se pode ver com nitidez algo que o poeta Francis Ponge certa vez escreveu: sua atitude não é vem a do incendiário, mas a do bombeiro. Aquele bombeiro que vai apagar o fogo e começa jogar água, e jogar água, e joga água até que tudo vire uma enchente. Essa a América que Jerry Lee Lewis visou, segundo o olhar de Jim McBride, e na pele de um ótimo Dennis Quaid. (IA) Texto Anterior: Manhattan; A moda do pagode; Vôo Cego Próximo Texto: Malle leva lirismo a um bordel Índice |
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