São Paulo, quinta-feira, 26 de outubro de 1995
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Marina Lima grava disco "para os outros"

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

Quando em "O Chamado" Marina expôs suas tormentas em uma viagem interiorizada, o público foi caloroso e o disco vendeu 200 mil cópias.
Segundo a cantora, "(Abrigo)" surge como uma retribuição.
"'O Chamado' eu fiz para mim. Esse eu fiz para os outros", diz.
"Quando você está passando por um momento mais frágil, e é acolhida, você fica enternecida. Te dá uma gratidão. Fiquei feliz. Me ajudou inclusive a superar os problemas", afirma.
Problemas que incluem a morte do pai e o fim da parceria com o irmão, o filósofo Antônio Cícero.

Rito de Passagem
Para ela, o disco anterior era muito autoral. "Era uma necessidade pessoal. Algo como um rito de passagem. Suei em cima daquilo. Fui até o fundo para resolver. Aquele disco me libertou", acredita ela.
Em "Casa e Jardim" (Alvin L. e Vinícius Massena), do novo álbum, uma parte da letra diz: "É como perder a cabeça e nunca mais achar/ Ou como passar dos limites e ficar por lá".
Uma impressão que Marina vivenciou anteriormente.
"Na época de 'O Chamado' tive essa sensação de estar passando dos limites e quase 'ficar por lá'."
Não que ela estivesse pirando, ou coisa do gênero, como faz questão de frisar.
"Estava entretida com coisas minhas e não conseguia me ligar com o que estava ao redor", explica.

Isolamento
Artisticamente, Marina se considera produto de uma entressafra.
"Sou temporã de uma geração anterior e primogênita de uma geração porvir", diz.
É apenas a percepção de algo que reforça o senso de isolamento.
"O ser humano é só. Mas não foi feito para viver só", medita.
Ela diz que sempre teve uma sensação de ser estrangeira. Nasceu no Rio, mas foi cedo para os EUA, onde passou sete anos.
Um período que ela define como "exílio involuntário".
Foi lá que Marina ganhou seu primeiro violão -que, na época, se tornou seu melhor amigo.
Quando retornou ao Brasil, aos 12 anos, ela não se adaptou muito bem. Continuou uma estrangeira.
"Sempre fui meio outsider. Às vezes é um pouco sofrido. Mas não lamento nada. Tudo foi bom para me fortalecer, para ter mais certezas das minhas escolhas, mesmo que elas pareçam, às vezes, um pouco estranhas", diz sem entrar em detalhes.
Não que ela, eventualmente, não tente resolver esse distanciamento das coisas e do mundo.
Em "(Abrigo)" ela paga suas dívidas juntando 15 canções de outros compositores.
Há autores novos, como Chico Science, desconhecidos, como Giovanni Bizzotto, e consagrados, como Tom Jobim.
É uma tentativa de servir de ponte às duas gerações as quais ela acredita estar ligada afetivamente.

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