São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995 |
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Karpov quer defender no Brasil título do xadrez ANDRÉ FONTENELLE e RUBENS LEME DA COSTA ANDRÉ FONTENELLE; RUBENS LEME DA COSTA
Karpov chegou ontem ao Brasil, para tentar encontro com o ministro dos Esportes, Pelé, e sugerir que empresas brasileiras patrocinem a disputa. A bolsa para os jogadores seria de US$ 2 milhões. O campeão da Fide (Federação Internacional de Xadrez) falou à Folha por telefone, de Nova York, e na chegada a São Paulo. Ele se considera o único campeão mundial de xadrez. Ele nega legitimidade ao outro campeão mundial, Garry Kasparov. Kasparov, que era campeão da Fide, brigou com a entidade em 1993 e fundou a dissidente PCA (Associação de Xadrez Profissional), da qual se tornou campeão. Folha - O sr. visitou o Piauí este ano. É verdade que quer uma casa no Brasil, para se preparar para competições? Karpov - É verdade, é verdade. Falamos sobre isso lá. É um lugar maravilhoso. Felizmente, não foi destruído. Quente, clima bom. Folha - Como está a organização da disputa pelo título? Karpov - Não muito clara. Parte do grupo de (Florencio) Campomanes (presidente da Fide) está atuando contra nossos interesses. Folha - Esse desinteresse da Fide é proposital? Karpov - Há duas possibilidades: ou Campomanes está velho, sem energia, ou fazendo isso de propósito. Não sei se houve acordo secreto entre ele e Kasparov. Folha - Considera legítimo o título mundial de Kasparov? Karpov - Não, claro que não. A Fide deve reagir e declarar que há apenas um título mundial. Então Kasparov pode criar sua organização particular? Há apenas um título oficial. Folha - O sr. enfrentaria Kasparov para reunificar o título? Karpov - Acho que é uma boa idéia unificar. Mas a organização tem que ser da Fide. A parte comercial pode ficar com Kasparov. Folha - Como viu a disputa pelo título da PCA, em que Kasparov arrasou o indiano Viswanathan Anand? Karpov - Anand destruiu a si mesmo. Não sei o que aconteceu. Folha - O sr. faria melhor? Karpov - Eu joguei muito melhor e tive mais chances em todas as séries que disputei contra Kasparov. Não é uma resposta? Folha - Sente falta de jogar contra Kasparov? Karpov - Enfrentei-o no ano passado, em Liñares, na Espanha (empatou). Não tive problemas. Não tenho medo. Estou otimista. Folha - No tempo da URSS, o sr. era visto como o jogador do "establishment". E hoje? Karpov - Pelé representa o "establishment" ou é popular? O xadrez na Rússia é como o futebol no Brasil. Eu era popular naquela época e sou popular agora. Folha - Como vê Kasparov? Karpov - Ele é um grande enxadrista. Mas, na vida, pode usar quaisquer métodos. Tem o caráter de um ditador, embora se apresente como grande democrata. Texto Anterior: Sindicato de Árbitros critica lista Próximo Texto: Kasparov vai jogar no Rio em janeiro próximo Índice |
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