São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Filme de Tati estréia com versão em cores

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA

Filme: Carrossel da Esperança
Produção: França, 1995 (versão colorida)
Direção: Jacques Tati
Elenco: Jacques Tati, Guy Decomble, Paul Frankeur e Santa Relli
Estréia: hoje no Espaço Banco Nacional de Cinema 4 e no cine Lumière 2

A versão colorida de "Carrossel da Esperança" permite vislumbrar algumas inovações na área do som e da cor que o cineasta Jacques Tati iria realizar plenamente em seus filmes mais maduros, como "Meu Tio", de 1958.
Quando "Carrossel da Esperança" foi filmado, em 1947, Tati usou duas câmaras: uma com negativo preto-e-branco e outra com um filme a cores, utilizado ainda como curiosidade, mas inédito no cinema comercial.
O recurso de duas câmaras se mostrou útil quando os laboratórios franceses da época se mostraram tecnicamente incapazes de fazer as cópias coloridas. O jeito foi lançar o filme em preto-e-branco mesmo.
A técnica, chamada "Thomson-Color", usava um filme positivo, em vez do negativo de onde se fazem as cópias que são exibidas no cinema. O positivo pode ser projetado, mas torna muito mais difícil que se tirem cópias.
Provavelmente, Tati ficou impressionado quando viu as primeiras projeções de seu filme em cores, mas, só mais tarde, soube que era inviável lançá-lo comercialmente nas salas de exibição.
O positivo a cores original se perdeu, mas Tati guardou uma cópia dele em preto-e-branco, encontrada pela filha do cineasta Sophie Tatischeff. Com a ajuda do fotógrafo de cinema François Ede, ela resgatou as cores originais por meio da moderna tecnologia de colorização por intermédio de computadores.
Não se trata, porém, de um simples acréscimo de cores, porque Tatischeff e Ede se basearam em entrevistas com pessoas que participaram da filmagem, na recuperação das cores imaginadas por Tati.
Os depoimentos deixados por Tati, morto em 1982, mostram que sua intenção era lançar o filme a cores.
Ele mandou pintar de cinza as portas e janelas da pequena cidade do interior da França, onde foi filmado "Carrossel da Esperança".
Desta maneira, as cores eram introduzidas aos poucos no filme pela chegada do parque de diversões à cidade, traduzindo visualmente o crescendo de emoção da pacata população.
Nas filmagens de "Carrossel da Esperança", alegoria da libertação da França pelos aliados, Tati enfatizava também o clima de patriotismo, privilegiando o azul e o vermelho da bandeira francesa.
Somente em 1958, com o lançamento de "Meu Tio" é que Tati pôde dar vazão às suas idéias sobre a cor no cinema. Neste filme, ele mostra como privilegia a composição de cores na tela, em vez do realismo que predominava no cinema norte-americano.
Se tivesse sido lançado em versão colorida na década de 40, "Carrossel da Esperança" possivelmente teria uma grande importância na evolução da indústria e da linguagem do cinema francês.
Também o uso dos ruídos da banda sonora já antecipa a influência que Tati iria exercer sobre a comédia e o cinema em geral.
A inovação está presente na "gag" da mosca que nunca vemos, mas que interage com os personagens pelo zumbido. E também na falta de sincronismo do galã que conquista a mocinha por meio de diálogos de um filme.
Já está presente o personagem do homem comum confrontado com a mecanização da sociedade, tema que Tati viria a ampliar a cada filme de sua carreira.
Com a urbanização da França no pós-guerra, Tati também aperfeiçoaria o carteiro François em outro personagem, desta vez urbano, mas igualmente ingênuo e francês, o M. Hulot.

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