São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 1995
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Quem espera não alcança

As reduções na jornada de trabalho negociadas pela Ford e pela Iochpe-Maxion são exemplos de que como enfrentar a tendência de aumento do desemprego. A redução das vagas de trabalho é um desafio mundial que não pode mais ser abordado como algo lamentável sobre o que nada há a fazer.
Não se pode esperar, evidentemente, que todas as empresas tenham margem para negociar uma pequena redução da jornada em troca apenas da flexibilização do horário, como fez a Ford. A Iochpe-Maxion negociou a redução de 20% nas horas de trabalho e nos salários. Seja através de negociações por empresa ou por meio de uma discussão nacional e da legislação, o problema precisa ser enfrentado. O quanto antes, melhor.
Na Europa, onde há um amplo sistema de proteção social, a questão gera fortes tensões. Em países pobres como o Brasil, nos quais a perda do emprego pode significar o caminho da indigência para largas parcelas da população, o tema assume caráter ainda mais urgente.
O avanço tecnológico vem dispensando mão-de-obra em quase todos os setores. O crescimento acelerado da economia, que poderia de alguma forma compensar tal tendência, foi moderado para evitar pressões inflacionárias e ajudar a recuperar os saldos comerciais.
Aqui, como na Argentina, soma-se infelizmente mais uma tendência negativa. O desemprego tecnológico, ou estrutural, é reforçado pela crescente substituição de insumos produzidos no país por matérias-primas importadas, uma tendência que se torna mais aguda nos planos de estabilização que usam a valorização do câmbio.
Mesmo com o crescimento da economia o desemprego aumentou incessantemente ao longo dos últimos quatro anos na Argentina, passando de taxas entre 6% e 7% em 1991, no início do Plano Cavallo, para 18,6% em maio último.
A redução negociada da jornada de trabalho e a mudança da base de arrecadação da Previdência, de modo a reduzir a incidência da contribuição de 20% sobre a folha de salários, precisam ser encaradas como alternativas concretas e seriamente discutidas desde já.

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