São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Garrincha e Cony

JUCA KFOURI

A coluna tem más notícias para o vizinho da página "Opinião", Carlos Heitor Cony.
Legítimo herdeiro de Maria Callas, a cantora lírica grego-americana (1923-1977) que se notabilizou pelo temperamento dramático, o colunista ficou indignado ao tomar conhecimento da mistura de ficção e biografia de seu pai que Cony acaba de escrever.
Está lá, em um trecho publicado pela revista "Imprensa" deste mês, pelo menos uma referência indevida à soprano, supostamente autora de um autógrafo que nós, repete-se, legítimos herdeiros, não reconhecemos como verdadeiro.
O que nos obriga a contratar o excelentíssimo advogado da família de Garrincha para impedir que o "Quase Memórias" de Cony venha à luz.
A menos, é claro, que desde já ele se disponha a pagar uma certa quantia pelo uso do nome de tia Callas.
E que fique bem claro: não nos move nenhum outro interesse que não o pecuniário.
Falando sério, tem sido exatamente essa a perigosa prática que bota em risco a memória nacional, com rábulas espertos que procuram impedir o lançamento de biografias de gente que faz parte da nossa história.
Em relação a Garrincha, então, a prática vem de anos.
Em 1992, por exemplo, a título de comemorar os 30 anos da conquista do bicampeonato mundial pela seleção brasileira, no Chile, a revista "Placar" lançou uma edição revivendo a epopéia e tendo na figura de Mané -o grande herói daquela façanha- o personagem central da publicação.
Pois o ágil advogado tentou, em vão, tirar proveito da situação.
Agora, às vésperas do lançamento da biografia de Garrincha, a "Estrela Solitária", de Ruy Castro, ele volta a atacar. Menos mal que já foi derrotado em sua intenção pela bela decisão da juíza da 42ª Vara Cível do Rio de Janeiro, Nádia Maria. "A liberdade de expressão está consagrada em qualquer atividade intelectual", sentenciou.
Cony, na última quarta-feira, escreveu sobre o tema em sua coluna, dizendo "que haja advogados que topam tudo por dinheiro, compreende-se. Espera-se dos juízes um ponto final a essa ganância forense." Talvez ele estivesse adivinhando que os herdeiros da tia Callas...

Que não se confunda a tentativa de impedir a publicação da biografia de Garrincha com o caso já famosos das figurinhas dos "heróis do tri". Aí, a CBF vendeu à Editora Abril direitos que não tinha, enganando-a e aos craques.

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