São Paulo, sábado, 28 de outubro de 1995
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Ato contra separação leva 70 mil ao Québec

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Cerca de 70 mil pessoas, incluindo moradores de outras Províncias do Canadá, concentraram-se ontem na principal praça de Montreal para pedir aos cidadãos da Província do Québec que não se separem do país.
Na próxima segunda-feira, cerca de 5 milhões de habitantes da Província, 82% deles de origem francesa, decidem se o Québec vai ou não se transformar em país independente. Em 1980, em votação similar, a proposta foi derrotada.
A mais recente pesquisa de opinião pública, divulgada ontem pelo jornal "Montreal-Gazette", mostrava 46% de preferências pela secessão, 40% pela união e 14% de indecisos. A margem de erro é de 3,7 pontos percentuais.
A população do Québec é 25% do total do Canadá, sua área, cerca de 16%, e o produto bruto da Província, 22% do canadense. O atual território canadense está unido desde 1867.
O primeiro-ministro do Canadá, Jean Chrétien, que discursou ontem em Montreal a favor do "não", recusa-se a dizer como seu governo reagirá a uma eventual vitória do "sim" no plebiscito de segunda-feira.
Embora a maioria dos analistas ache que a vitória da tese da secessão seja politicamente irrecusável, Chrétien pode convocar plebiscito nacional ou uma segunda votação no Québec para referendá-la.
Chrétien também tem o direito de apelar à Suprema Corte do Canadá com o objetivo de anular eventual vitória do "sim".
A Casa Branca, sede do governo dos EUA, ratificou ontem declaração feita na véspera pelo presidente Bill Clinton a respeito do plebiscito.
Clinton havia dito que, embora esse seja um assunto interno canadense, os EUA consideram sua relação com "um Canadá forte e unido" importante.
O vice-primeiro-ministro do Québec, Bernard Landry, pró-secessão, exigiu que Clinton se retratasse e ameaçou: "Se o 'sim' ganhar, os eleitores do Québec vão lembrar que sua soberania foi obtida apesar ou talvez até contra o desejo dos EUA".
O Canadá é o principal parceiro comercial dos EUA. Suas exportações para os EUA somaram em 1994 US$ 131,1 bilhões, e as importações, US$ 114,9 bilhões.
Muitos analistas acham que o Québec terá dificuldades econômicas para sobreviver como país independente. A Província tem um Produto Interno Bruto de US$ 116,9 bilhões e dívidas públicas de US$ 52,5 bilhões.
Os líderes separatistas dizem que, se vencerem, querem ter relação de parceria íntima com o Canadá e que não pretendem nem adotar nova moeda nem fechar suas fronteiras com as demais Províncias canadenses.
Se o "sim" perder por poucos votos, os separatistas pretendem proclamar "vitória moral" e exigir novas concessões políticas e econômicas do governo federal para a Província.

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