São Paulo, domingo, 29 de outubro de 1995
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Livro detalha 'vôos da morte'

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

Chefes das Forças Armadas argentinas admitiram, neste ano, que houve tortura e assassinato de opositores durante o último governo militar (1976-1983).
A atitude causou repercussão e polêmica no país. Mas a novidade não estava nos fatos, conhecidos e denunciados dentro e fora do país havia anos, e sim na própria admissão de culpa dos militares.
Essa é uma das análises apresentadas à Folha pelo jornalista argentino Horacio Verbitsky, 53, autor de boa parte das denúncias contra os militares publicadas na imprensa local e estrangeira.
Na próxima semana, Verbitsky estará no Brasil para o lançamento de seu mais recente livro, "O Vôo" (editora Globo, 184 págs., R$ 18).
A publicação detalha, a partir do depoimento do capitão-de-corveta Adolfo Francisco Scilingo, as operações de vôo de aviões das Forças Armadas com a missão de lançar no oceano Atlântico prisioneiros dopados e despidos.
Em entrevista à Folha, Verbitsky afirma que o presidente argentino, Carlos Menem, declarou-se favorável à chamada "guerra suja", em 1994, e que os principais partidos políticos estiveram ligados ao regime militar.
No próximo dia 6, ele se apresentará no auditório da Folha para uma palestra. A seguir, alguns trechos de sua entrevista.
para uma palestra. A seguir, alguns trechos de sua entrevista.

Folha - Como era a eliminação de opositores ao governo militar que o sr. denuncia?
Horacio Verbitsky - O plano consistia em sequestrar as pessoas, que eram detidas em lugares clandestinos. Elas eram torturadas e, depois, postas em liberdade, enviadas à prisão ou assassinadas clandestinamente.
Houve muitos métodos diferentes para matar essas pessoas. Um deles foi jogar os prisioneiros, de aviões, no oceano Atlântico.
Os militares aplicavam um sonífero nos prisioneiros e os embarcavam em aviões. Os aparelhos voavam em baixa altitude. Uma segunda dose de sonífero era aplicada para que eles dormissem profundamente. Eram, então, despidos e jogados ao mar.
Folha - Antes da declaração de Scilingo esse método não havia sido denunciado?
Verbitsky - No caso da Marinha, a declaração de Scilingo colocou pela primeira vez na boca de um autor a descrição do método.
Mas houve denúncias anteriores, de vários sobreviventes. Isso foi registrado tanto na Comissão de Investigação sobre Desaparecimento de Pessoas, em 1984, como no julgamento das Juntas Militares, em 1985.

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Trechos da entrevista à pág. 24.

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