São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Justiça gasta R$ 34 mi com obras suspeitas

DANIEL BRAMATTI; DENISE MADUEÑO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Poder Judiciário destinou R$ 34,2 milhões do Orçamento de 96 para obras consideradas irregulares pelo Tribunal de Contas da União. O valor equivale a 13,2% do total de recursos para investimentos do Judiciário (R$ 258 milhões).
Técnicos do Tribunal de Contas da União constataram várias irregularidades na obra, incluindo "cláusulas abusivas contrárias ao interesse da administração".
O TCU só apontou indícios de superfaturamento em uma das oito obras. Trata-se da nova sede do Tribunal Regional do Trabalho da 14ª região, em Porto Velho (RO).
A construção, de acordo com o TCU, tem um custo de R$ 2.517 por metro quadrado. O Sinduscon (Sindicato das Indústrias de Construção Civil) avalia o custo médio do metro quadrado construído em Rondônia em R$ 425,45.
O metro quadrado do TRT de Rondônia custa praticamente o dobro do verificado na nova sede do STJ (Superior Tribunal de Justiça), um dos conjuntos de edifícios mais luxuosos de Brasília.
A sede do STJ também está sob suspeita: o TCU constatou a existência de "adiantamentos ilegais e ilegítimos, pagamentos de despesas indiretas com taxa de lucro embutida e alteração do mês de referência do preço contratado".
A construção custou R$ 170 milhões -R$ 1.272 por metro quadrado. Segundo o Sinduscon do Distrito Federal, o metro quadrado construído de um prédio de alto padrão em Brasília custa R$ 373,63. A sede do STJ foi inaugurada recentemente e não tem verbas previstas no Orçamento de 96.
O relatório do TCU foi encomendado pela comissão Mista de Orçamento. O deputado Iberê Ferreira (PFL-RN), relator do Orçamento, afirmou que vai cortar as verbas de todas as obras em que houver comprovação de mau uso de recursos públicos.
Segundo o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), vice-presidente da Comissão de Orçamento, a soma das obras do Judiciário em todo o país chega a 536 mil metros quadrados: "Os dados mostram que muito pouco será investido para resolver o principal problema da Justiça, que é a morosidade".
Um processo no Supremo Tribunal Federal demora, em média, de um ano a um ano e meio. Na Justiça do Trabalho, há processos que demoram até cinco anos.
"Não é construindo prédios que a Justiça vai acelerar a tramitação de seus processos", disse o deputado José Genoino. Um levantamento de Genoino mostra que o Judiciário gasta grandes somas com reparos e conservação de imóveis já construídos.
O TRT da 14ª região, em Rondônia, prevê gastos de R$ 2,18 milhões nesse item -praticamente o mesmo valor de São Paulo, cujo número de prédios da Justiça do Trabalho é bem maior.
(Daniel Bramatti e Denise Madueño)

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