São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995
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Estabilidade leva bancos a "importar" executivos

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O Plano Real, quem diria, está estimulando a importação de executivos e consultores do exterior. Parece um sonho de economistas do governo, mas não é.
Os bancos brasileiros, que exportavam especialistas em administração sob inflação galopante e constantes mudanças de regras, agora buscam lá fora "experts" em fazer negócios em economias estáveis.
O Citibank é um bom exemplo. Seu penúltimo presidente no país, o brasileiro Álvaro de Souza, foi importado pela matriz para fazer parte do restrito "board of directors", em Nova York.
Além do talento pessoal, o sucesso de Souza em Wall Street deveu-se em grande parte a sua experiência em ganhar muito dinheiro em um país instável como o Brasil, plano após plano.
Este ano, com o êxito do Real, o Citibank trouxe dos Estados Unidos três executivos para áreas importantes da sua divisão voltada ao atendimento às pessoas físicas e chefiada pelo vice-presidente Elvaristo do Amaral.
Vieram de Nova York o americano David Tobolla (diretor financeiro), o porto-riquenho Justo Munhoz (diretor de crédito e cobrança) e o brasileiro Maurício Melo, como responsável pela reengenharia do "consumer bank". Melo trabalhou por 15 anos nos EUA.
"Estamos adaptando nosso negócio a um ambiente de economia estável e, por isso, trouxemos gente com vasta experiência nesse campo. Nada do que fazíamos antes tem a ver com o que fazemos agora" argumenta Amaral.
Ele explica que a atividade bancária pré-Real era voltada à inflação elevada. Os bancos passavam a maior parte do tempo protegendo o dinheiro próprio e o dos clientes contra a corrosão monetária e, invariavelmente, tornavam-se meros financiadores da dívida pública.
Agora, os bancos têm de se voltar mais ao crédito, fonte de receita importante num cenário marcado pela inflação baixa e, quiçá, pela retomada dos investimentos.
"Os executivos que trouxemos de fora têm know-how em administrar créditos de longo prazo."
A brutal elevação dos empréstimos bancários após o Real e as perdas com a inadimplência de empresas e pessoas mostraram que os bancos não estão acostumados a conceder crédito -pelo menos, como atividade principal.

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