São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 1995 |
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Mostra permite um balanço do ano 1995 foi só o começo para o Brasil AMIR LABAKI
A premiação dos grandes festivais traz um perfil enganoso. A França, autoproclamada pátria do cinema, fechou neste ano o "grande slam", com vitórias através de produções ou co-produções em Berlim ("A Isca"), Cannes ("Underground") e Veneza ("O Ciclista e O Poeta"). Atribua-se esse resultado, porém, antes à decadência emérita das grandes mostras competitivas do que a uma pretensa nova onda gaulesa. Mathieu Kassovitz ("O Ódio") é a exceção -e não a regra. São as mostras paralelas que ainda garantem aos festivais o status de principal vitrine do cinema mundial. Somando tudo, qual o panorama da produção de longas-metragens de 1995? Puxam a fila da renovação os independentes americanos e o cinema asiático. Sobre os "indies", basta ver o disfarçadamente denso "Denise Está Chamando", de Hal Salwen (um dos dez preferidos da mostra), ou a inovação do documentário com "Hoop Dreams", de Steve James, ou a desenvolta estréia na produção hollywoodiana de Robert Rodriguez, em "A Balada do Pistoleiro", para sentir que o fôlego parece longe de se esgotar. Já a explosão do cinema asiático migra de país a país. Mal elaboramos a recepção à nova geração chinesa de Chen Kaige e Zhang Yimou, eis que as atenções se transferem para o cinema-urgente de Hong Kong (Wong Kar-wai) e Formosa (Tsai Ming-liang). A crise francesa, por sua vez, se insere dentro da grande crise européia, da qual escapam quase somente o cinema britânico e alguns autores (Almodóvar, Kusturica). As produções africanas e latino-americanas andam de lado, vivendo de momentos isolados (respectivamente "O Tempo" de Cissé, "Amnésia" de Justiniano e "Terra Estrangeira" de Salles Jr.). Da Oceania, a expectativa aberta por cineastas como Jane Campion ("O Piano") e Jocelyn Moorhouse ("A Prova") ainda não se confirmou (os curtas ainda têm mais impacto do que os longas). \abbas Kiorastami ("Através das Oliveiras") tornou moda o cinema iraniano, numa supervalorização que por vezes ofusca mais do que revela seus pontos fortes. Muito menos badalado, e marcadamente mais variado e perturbador, parece-me hoje o cinema canadense, de Croneberg a Arcand e Egoyam. E o Brasil? Vale esperar o festival de Brasília, que acontece na próxima semana, entre 8 e 15 de novembro, para fechar o balanço do ano. Desde logo, porém, é claro que a retomada da produção deve seu fôlego criativo à renovação de talentos. E, em 1995, o que vimos foi só o começo. Texto Anterior: Amelio leva drama social ao 'road movie' Próximo Texto: Ajudar faz o dia render Índice |
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